De novo a crase
Mas desta vez não vou silenciar, pois diz respeito a um assunto que já abordei aqui e que é uma de minhas "brigas" mais antigas: a crase. Vejam o título acima, na capa do caderno Kzuka. Com certeza aquela crase foi colocada por algum "decorador de regrinhas". É aquele sujeito que sabe na ponta da língua todos os "pecados da crase", mas não a entende realmente. Um desses famigerados macetes diz que não há crase antes de palavras masculinas. Como ensina o professor Cláudio Moreno:
A crase ocorre quando dois "AS" se encontram, e pronto. Em 90% das vezes, trata-se do encontro [prep. A + artigo A]. Ora, como este precioso artiguinho feminino só pode aparecer antes de substantivos femininos, é uma conseqüência lógica (não uma proibição!) que isso não ocorra antes de substantivos masculinos.
Certo. Mas, se em 90% dos casos a case não ocorrerá antes de palavra masculina, não se deve inferir que sempre haverá crase em um "a" antes de palavra feminina. No caso acima, não há crase porque inexiste o artigo "a" antes de "musa". Os mais apressados contestarão: "Como, não? Não se diz a musa?" Sim - mas não na frase acima. Também se diz "o patinho feio" e, no entanto, o artigo não está sendo usado nesse caso. Se disséssemos "do patinho feio à musa", até ocorreria a crase, mas a frase teria um sentido totalmente diverso que não se enquadraria no título da matéria.
A crase não é o resultado de um algoritmo ("SE preposição a E palavra feminina OU caso especial..."). Ela tem lógica. Em minha infância, eu lia os gibis da Ebal e entendia a crase sem mesmo saber que ela tinha esse nome. Há quem a defina simplesmente como "o feminino de ao". Não é apenas isso, mas quem conseguir entender essa explicação já terá captado a essência. Enquanto as pessoas insistirem nessa teimosia burra de memorizar macetes sem realmente compreender o que é a crase, continuarão cometendo erros primários como o do jornal de hoje.
Leia também: "A crase"
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