quinta-feira, janeiro 31, 2008

Um Almanaque de fôlego

Tenho uma relação um tanto curiosa com futebol e novelas. Raramente acompanho um ou outro, mas adoro ler sobre os dois assuntos. Já houve um tempo em que eu era noveleiro e colorado fanático. Hoje são temas que me interessam mais numa perspectiva histórica.

Não sou muito fã desses "Almanaques" que estão na moda no mercado editorial. Alguns são apenas apanhados esporádicos de textos e ilustrações, mas com pouca informação. Não é o caso de "Almanaque da Telenovela Brasileira", de Nilson Xavier. Talvez por ter sido organizado por um entusiasta e não por um escritor de ofício (Nilson é Analista de Sistemas, mas sua paixão por novelas levou-o a criar o site Teledramaturgia), o livro é farto em dados, curiosidades e imagens. Ao contrário da maioria das obras retrospectivas, que demonstram falta de memória e se concentram em anos recentes, este Almanaque vai fundo nas lembranças de todas as épocas. Minha única decepção foi a novela "Ninho da Serpente", exibida em 1982 pela Bandeirantes, não ter sido citada no capítulo "Quem matou". Eu lembro de ter assistido a alguns capítulos da trama na casa de uma amiga, mas depois não soube o desfecho. Estou até hoje querendo saber quem foi o assassino da moça que queria casar virgem e não cedia à pressão do noivo (último resquício de um tabu superado).

Aproveitando o gancho, vejam aqui uma retrospectiva sobre novelas exibida pelo Vídeo Show nos anos 80. Começa com "Nino, o Italianinho", da Rede Tupi, e termina com a segunda versão de "Selva de Pedra", de 1986:



Ainda quanto ao Almanaque, há que se fazer uma observação sobre um tópico do capítulo "Mortes (in memoriam)". Ao lembrar o falecimento de Sérgio Cardoso em 1972, o livro diz:

O ator Sérgio Cardoso morreu de ataque cardíaco, aos 47 anos de idade, no dia 18/8/1972, quando faltavam 28 capítulos para terminar a novela O primeiro amor (Globo). Seu papel passou a ser intepretado por Leonardo Villar. A substituição doi personagem foi feita com todo o elenco reunido no estúdio.

Até aqui, está tudo certo. Mas o restante do parágrafo, infelizmente, não:

Sérgio Cardoso foi visto saindo por uma porta em sua última aparição na novela. Depois, com a imagem congelada no vídeo, um texto lido pelo autor Paulo José explicava o que acontecera e relembrava a trajetória do ator. Por fim, batia-se a porta e, quando a cena recomeçava, entrava Leonardo Villar, sendo recebido pelo elenco.

Embora o autor não faça referência direta, a fonte para essa informação com certeza foi o livro "Dicionário da TV Globo Vol. 1: Programas de Dramaturgia e Entretenimento", citado na bibligrafia. Ali a atriz Renata Sorrah, que fazia o papel de Mariana, é creditada por esse testemunho. Mas não está correto. Eu tinha 11 anos na época e lembro bem como foi. Estava acontecendo uma cena de discussão entre o "Professor Luciano" (Sérgio Cardoso) e outro personagem. De repente, mostra-se uma cadeira vazia com um par de óculos por cima e a luz se apaga. A seguir, aparece o elenco todo perfilado. É Paulo José quem fala: "Esta foi a última cena, gravada no dia 18 de agosto às 6 da tarde..." Posso estar errando o horário. Depois de uma breve homenagem póstuma, Paulo José anuncia que Sérgio Cardoso será substituído por um colega e amigo. "O colega, o amigo, é Leonardo Villar, que a partir de hoje fará o papel de Professor Luciano." Enquanto a última frase é dita, Leonardo entra no estúdio e se posiciona à frente dos demais atores. Em seguida, a cena da discussão recomeça do ponto em que parou, já com Leonardo no lugar de Sérgio. Eu jamais esqueci isso, pois fiquei surpreso de saber que a gravação de uma cena aparentemente contínua podia ser feita ao longo de vários dias.

E já que falamos em Sérgio Cardoso, vejam aqui uma retrospectiva de trabalhos dele, exibida originalmente no Vídeo Show. Aparecem trechos de "Antônio Maria" e de dois Casos Especiais:

Antônio Maria fazendo uma homenagem às coisas simples da vida. Essa cena é antológica.

Caso Especial "O Médico e o Monstro". Os monstros mais assustadores do cinema e da TV geralmente não são os que têm cara de lobisomem ou extraterrestre, mas aqueles em que as feições são ao mesmo tempo humanas e sinistras. Tem-se a impressão de que é possível encontrar um deles na rua numa noite escura.

Muitos se surpreendem com essa imagem. Sérgio Cardoso em cores? Ele faleceu no ano em que a TV a cores estreou no Brasil, mas chegou a estrelar este Caso Especial, "Meu Primeiro Baile", anunciado no vídeo abaixo como a primeira produção colorida da Globo.