quarta-feira, outubro 10, 2007

Saudosismo

Na época em que a série de filmes "De Volta Para o Futuro" estava no auge (e merecidamente - é uma idéia certeira e muito bem executada), o editor da revista "Starlog" escreveu um belo editorial com o qual me identifiquei plenamente. Aliás, chegou a me surpreender. Basicamente, ele dizia que era possível, sim, viajar no tempo... através da música. Quem diria que, numa revista sobre cinema, eu iria encontrar um comentário sobre outra paixão minha ainda maior.

Hoje eu estava dando uma olhada rápida em alguns DVDs de músicos dos anos 80, como Huey Lewis and The News e Devo. No caso deste último, eram dois shows: um gravado em 1980, no começo da fama, e o outro em 2003. O vídeo consegue fazer essa mágica de envelhecer nossos ídolos 23 anos em questão de minutos. E o resultado, acreditem, é cruel. Já tinha experimentado uma sensação parecida ao assistir a um clip bônus do Blondie, gravado recentemente, em um DVD em que o programa principal era um show do final dos anos 70. O que o tempo fez com Debbie Harry. O que o tempo fez com todos nós.

Eu sou um saudosista assumido. Não me considero necessariamente preso ao passado, mas tenho muito carinho por minhas lembranças. Ainda bem, aliás. Sinal de que os bons momentos foram preservados. Minhas pesquisas no Museu de Comunicação me trazem uma sensação exata de viagem no tempo, pois lembro de muita coisa e vou repassando tudo, detalhe por detalhe. Um dia desses eu estava examinando jornais de 1974 e achei um anúncio de um especial do grupo argentino Los Barbaros que a TV Gaúcha exibiu num sábado. Encontrei também a chamada para um especial de Alice Cooper gravado em São Paulo. A estréia do "Sábado Som" com Nélson Motta. O dia em que Pedrinho assumiu a apresentação local do programa.

Mas o editor de "Starlog" estava certo: a melhor viagem no tempo ainda acontece pela música. Porque muitas vezes nos pega de surpresa. Quando vemos, já estamos em outra época. Eu com 21 anos, emagrecido, atleta, saindo com meu fuquinha (ou "fusquinha", pra quem não é gaúcho), hipnotizado pelas luzes tímidas mas reconfortantes da noite de Porto Alegre. Ligo o rádio e ouço "Trouble" com Lindsay Buckingham, "Mutante" com Rita Lee, "Tonight I'm Yours" com Rod Stewart, "O Sal da Terra" com Beto Guedes, "Waiting For a Girl Like You" com Foreigner, "Faltando um Pedaço" com Djavan (embora eu prefira a gravação de Gal Costa, que as rádios não tocaram), "Ebony and Ivory" com Paul McCartney e Stevie Wonder, "Você Não Soube Me Amar" com a Blitz, "Talking Out of Turn" com Moody Blues, "Lance Legal" com Guilherme Arantes, "Don't You Want Me" com Human League e muitas outras. A noite pode acabar na New Looking, na Discoate ou em algum barzinho da Jerônimo de Ornellas.

Pensando bem, não quereria nada disso de volta. Aconteceu no momento certo. Ficaram as músicas, que é só o que eu pensaria em guardar, mesmo. Mas ainda quero me organizar melhor para voltar a dar minhas longas caminhadas na Avenida Beira-Rio. Mesmo que seja uma só vez por semana, para manter o hábito. Disso, sim, tenho muita saudade. Do tempo em que eu tinha tempo.