domingo, outubro 07, 2007

Círculos fechados

Hoje, na revista Donna ZH do jornal Zero Hora, Célia Ribeiro faz um comentário rápido sobre a deselegância de convidar um grupo seleto de pessoas para uma festa diante de outras que estão excluídas. Diz que isso é uma gafe e o convite deve ser feito em particular, sem que os demais saibam. Isso me lembra um assunto que eu já pensava em abordar aqui no blog. Sou fascinado por diferenças culturais entre países e adoro ler o que os estrangeiros pensam sobre nós, brasileiros. O que acham estranho ou divertido, o que não conseguem entender e o que admiram. Está nos meus planos escrever com mais fôlego sobre esse tema, com base em minhas leituras.

Mas hoje, aproveitando o gancho da coluna da Célia, gostaria de relatar o que foi contado por dois brasileiros que passaram uma temporada no exterior. Um deles é meu amigo e viveu uma experiência bastante rica em Israel. Ele diz que era comum os demais integrantes do kibbutz onde ele estava combinarem de sair à noite sem convidar os sul-americanos. Todos ficavam sabendo onde eles iam e com quem, mas os "sudacas", como eram pejorativamente chamados os da América do Sul, ficavam de fora. E ninguém via nada de estranho nisso. A programação era deles, não havia por que convidar os de fora. Mas também não existia o cuidado em evitar que soubessem dos planos.

Recentemente, na comunidade de tradutores do Orkut, uma brasileira que mora nos Estados Unidos contou uma história similar. Disse que seus colegas de trabalho combinavam as festas na frente dela, com toda a naturalidade, mas não a convidavam. E no dia seguinte ficavam comentando detalhes do encontro, como tinha sido divertido, mas não sentiam a menor necessidade de sequer inventar uma desculpa por não a terem chamado. A festa era deles, ora!

Preconceito? Discriminação explícita? Talvez. Mas ainda aposto na questão das diferenças culturais. Eu vivi uma experiência semelhante em 1980, quando tive contato com missionários americanos que estavam em Porto Alegre. Um dia eles me contaram que iriam fazer uma festa à noite e casualmente uma das convidadas era uma colega minha de faculdade. Que interessante! Não, não era um evento da igreja. Mas ela estava na lista e eu não. Em outra ocasião, convidaram um amigo meu para jantar na casa de um deles.

Todos esses casos me levam a formular uma hipótese: em certos países estrangeiros, é perfeitamente normal a existência de círculos fechados. Não será a sua chegada como "colega novo" que o integrará automaticamente ao grupo. Já nós, brasileiros, somos gregários, estamos logo convidando pessoas que mal conhecemos para freqüentar nossas casas. Isso se refletiu de forma clara no Orkut, onde há perfis brasileiros "lotados", com a quantidade máxima de amigos. Tem gente que me adiciona só porque concordou com alguma opinião que emiti em uma comunidade. É o modo brasileiro de viver. Os estrangeiros, em especial os do hemisfério norte, parecem ser mais reservados. Assim como preservam sua privacidade, mantêm suas "panelinhas" sem o menor constrangimento. Seria interessante ouvir o testemunho de meus sobrinhos e amigos que estão morando no exterior.