sábado, março 03, 2007

Volta às aulas

Ontem enviei uma mensagem rápida a minha antiga correspondente americana do tempo de adolescência. Hoje ela está casada, com filhos e, por coincidência, um deles também é autista. Mas é Síndrome de Asperger, o que é bem diferente da condição do Iuri. Comentei que março era época de volta às aulas no Brasil, mas não para mim, que já tive escola que chega. Depois de enviar a mensagem, comecei a lembrar o tempo do colégio. Mas, principalmente, a sensação do término do ano letivo. Ufa! Acabou! Agora só no ano que vem!

Até que um dia acaba mesmo. Para sempre. O último dia de aula é de fato o derradeiro. A sensação é de alívio, de liberdade. Mal dá pra acreditar que nunca mais nos preocuparemos com provas, com notas, com trabalhos e temas de casa. E no momento exato em que escrevo isto, sinto tudo aquilo de novo. Esse é o lado bom de concluir um curso. Certa vez li uma certidão emitida por uma faculdade que dizia mais ou menos assim: "Certifico que o aluno Fulano de Tal eliminou as disciplinas abaixo." Ora, coloquialmente até se fala dessa forma, mas num documento redigido pela própria instituição? Desde quando uma matéria é eliminada? Uma matéria é aprendida, absorvida, incorporada ao currículo e ao conhecimento. Mas a visão de que uma disciplina é um estorvo, uma barreira a mais a ser transposta até chegar ao diploma, acabou sendo registrada num certificado oficial. Em suma, atestaram que o aluno livrou-se das matérias.

O que provavelmente não percebíamos é que, enquanto precisávamos nos preocupar com notas, com trabalhos e temas de casa, tínhamos pai e mãe para nos dar casa, comida e roupa lavada. Não precisávamos pagar conta da luz, de telefone, aluguel, condomínio, roupas. Alguns de nós ganhávamos mesada! Puxa, dinheiro limpo, isento de imposto, com destinação exclusiva para o lazer! Quantas revistas e discos de vinil eu comprei unicamente com o dinheiro da mesada! Mas o que mais dá saudade é do convívio com os colegas. Da hora do recreio, da hora da saída, das reuniões na casa de um e outro para fazer os trabalhos. Tinham as festinhas, também. Às vezes me pergunto o que nos impede de fazer hoje tudo o que fazíamos naquela época. E aí me dou conta que, no tempo do colégio, meus compromissos eram bem menores. Só a freqüência e as provas. Nada mais. Como já escrevi aqui uma vez, não é a maturidade que nos torna adultos, é a falta de tempo. É preciso muito tempo livre para ser criança.

Não estou reclamando da vida adulta. Hoje vivo do meu jeito, como gosto, e não quereria voltar à antiga situação. Mas algumas coisas dão saudade e o colégio é uma delas. Muita gente já voltou à sala de aula e outros devem começar na semana que vem. E devem estar pensando que acabou a moleza. Ah, realmente, férias do tempo de colégio é outra coisa. Dois ou três meses de folga não é para qualquer um. Mas dá uma pontinha de inveja de imaginar a turma se reunindo no pátio antes de entrar para a sala.

Não tenham medo da vida de adulto. Ela é ótima quando a gente sabe conduzi-la. E tem suas vantagens. Mas aproveitem o tempo do colégio. E o de Faculdade, também. O convívio da sala de aula é único e especial.

Boa volta às aulas.