segunda-feira, setembro 18, 2006

Negociando com ladrões

O músico e representante comercial gaúcho Edenilson de Fátima Assis, de Viamão, está feliz da vida. Conseguiu recuperar sua gaita roubada. Pagou 300 reais pelo instrumento avaliado em 9 mil. Os ladrões a haviam oferecido para um comerciante de Canoas, que a princípio não se interessou. Mas quando Edenilson soube desse fato, foi até o estabelecimento em questão e implorou para que o proprietário o ajudasse a reaver sua gaita. Na segunda tentativa, o negócio foi feito. O comerciante comprou a gaita dos ladrões por 35 reais e a revendeu ao antigo dono por 300. A notícia está na Zero Hora de hoje.

É impressionante como o desespero em reaver algo que nos é valioso pode levar a negociar com ladrões. Edenilson está feliz, não está nem um pouco preocupado com o fato de ter pactuado com criminosos. Para ele, importa é que conseguiu resgatar sua gaita sã e salva. E por um preço módico, ainda por cima. Seu pesadelo acabou. As fotos mostram um gateiro irradiando alegria enquanto abre o instrumento em pleno palco.

Não é o primeiro caso. Recentemente, um casal amigo teve o seu carro roubado. Dentro dele, foi levada uma cadelinha de estimação. Os proprietários não se importavam com o automóvel, mas fariam tudo para ter o animalzinho de volta. Nessa complicada e perigosa negociação, acabaram descobrindo onde ficava o desmanche para o qual o carro havia sido levado. De acordo com os informantes, é um local amplamente conhecido, mas ninguém se atreve a denunciar. Depois de dois ou três dias que pareceram uma eternidade, conseguiram recuperar a cachorrinha.

Outro caso: um amigo meu teve sua casa arrombada e perdeu itens preciosos de sua coleção de CDs. Depois veio comentar comigo sobre algo que há muito tempo eu já tinha constatado: as pessoas em geral não sabem o valor que tem um CD. "Tem gente que me diz para dar graças a Deus por não terem levado os móveis. Ora, se tivessem levado os móveis era só comprar novos!" O resultado é que ele percorreu as lojas de discos raros de Porto Alegre para fazer um pedido: "se alguém vier aqui oferecer tais e tais CDs, por favor, compra, que eu compro de ti depois". E, com efeito, muitos dos CDs apareceram. Até para mim foram oferecidos. Acho que o lojista não contava com a solidariedade que ainda existe entre alguns colecionadores. Mas, mais uma vez, houve negociação com ladrões.

E agora? O que dizer de episódios como esses? Em todos eles, os lesados ficaram satisfeitos com o desfecho, pois recuperaram bens que lhes eram insubstituíveis. Do ponto de vista deles, foram finais felizes. Mas a justiça, como fica? O crime compensa? Vale a pena negociar com ladrões? A sensação de impotência diante desse quadro é angustiante.