quarta-feira, setembro 13, 2006

A polêmica do Orkut

Eu costumo definir o Orkut como uma Internet dentro da Internet. O site sistematizou em um único endereço uma série de opções que antes estavam dispersas: grupos de discussão, sites de amizade, álbuns de fotos e trocas de mensagens. O Orkut é uma espécie de "shopping center" virtual onde, em vez de lojas, você encontra os recursos mais populares da Internet, todos próximos e integrados. Mas o que fez do Orkut um espaço diferenciado foi o fato de ter virado moda no Brasil. Ele se tornou um "point" dos internautas brasileiros. Com o sucesso do Orkut, ficou mais fácil procurar velhos amigos, pois se eles forem usuários assíduos da Internet, mais cedo ou mais tarde estarão lá. Então tudo o que os internautas brasileiros já faziam de forma esparsa concentrou-se em um só local, fomentando e potencializando todas as possibilidades da rede – boas e más.

No entanto, há pessoas que parecem enxergar o Orkut como a própria Internet e não uma parte dela. E assim, quando os efeitos nocivos começam a ficar muito evidentes, falam em "acabar com o Orkut", "censurar o Orkut", "proibir o Orkut", "o Orkut" isso e "o Orkut" aquilo. Como se pedofilia, propaganda racista, calúnias e movimentos organizados com fins condenáveis não existissem antes. Eu estou na Internet há dez anos, como já disse aqui várias vezes, e mesmo sem Orkut já participava ativamente de grupos de discussão. Procurava e encontrava velhos amigos. Publicava fotos. Fazia amizades. Não vai muito longe: na semana passada fiz contato com uma americana que era minha correspondente na adolescência. Não a achei pelo Orkut, obviamente, pois a invasão brasileira afugentou os americanos de lá. Localizei-a, por incrível que pareça, pelo obituário de um irmão recém falecido. Enviei uma mensagem de condolências pelo site da funerária e uma semana depois ela respondeu.

Então parem com essa bobagem de querer culpar "o Orkut" pelo mau uso que alguns internautas fazem da rede. Se não fizerem no Orkut, vão fazer em outro endereço, como já faziam antes e ainda fazem. A única diferença, como citei no início, é o fato de o Orkut ter virado uma febre e estarem todos lá. Se o Orkut realmente acabasse, deixaria de existir o ponto de encontro habitual, mas os usuários mal-intencionados continuariam fazendo o que bem entendessem no restante da Internet.

De certa forma isso me lembra o que ocorreu com o DVD em relação ao universo de vídeo. Tudo que hoje acontece na era do DVD – compra em vez de locação, formação de videoteca própria, filmes acompanhados de documentários e entrevistas, lançamento de shows, relançamento de temporadas completas de séries de TV, instalação de "home theater" – já podia estar sendo feito desde os velhos tempos do VHS. Foi preciso surgir um formato novo para que o público "acordasse" para as reais possibilidades do chamado "home video". Assim também, o Orkut evidenciou uma diversidade de efeitos colaterais que a Internet já apresentava desde o começo. Só que agora foram colocados sob uma lente de aumento bem debaixo dos narizes de brasileiros menos atentos. Acabar com o Orkut seria apenas remover a lente.