quarta-feira, agosto 16, 2006

Pai gremista, filho colorado

Meu pai era gremista. Não desses fanáticos, de ficar de mau humor quando o time perdia. Mas chegou a ser conselheiro do Grêmio. Eu vim a ser colorado por influência de meu ex-cunhado, mas de qualquer forma meu irmão mais velho também é. Em minha época de colorado fanático, meu pai gostava de tocar flauta em mim. Era uma forma que ele achava de interagir comigo, tudo num clima sadio entre pai e filho. Quando comecei a me desinteressar de futebol, notei que ele se decepcionou um pouco, pois perdeu um ponto de contato com o filho mais moço. As derrotas do Inter não tiveram mais o mesmo gostinho para ele.

Mesmo assim, continuei acompanhando os jogos mais importantes. Quando o Grêmio foi Campeão Brasileiro em 1981, lembro que Paulo Sant'ana comentou em sua coluna que os colorados não secaram o Grêmio. Alguns até fizeram, que eu sei, mas a maioria achou que, depois de três títulos colorados, era a vez dos gremistas. E a final foi justamente contra o São Paulo. O Grêmio fez bonito. Venceu o adversário aqui e lá. Eu olhei os jogos pela TV com meu pai e, acreditem, torci para o Grêmio. E ainda chamei meu pai para ver quando o ônibus do Grêmio passou em frente ao prédio, na Avenida Mauá, após o retorno de São Paulo.

Da primeira Libertadores que o Grêmio venceu, realmente lembro pouco. Mas a final do campeonato mundial contra o Hamburgo foi na noite de 10 para 11 de dezembro de 1983, justamente na minha festa de aniversário de 23 anos (que eu na verdade completaria no dia 12). A maior parte dos convidados já tinha ido embora, mas os amigos de fé ficaram. Meu pai chegou no final da noite. Aproveitei para tirar uma foto com ele e minha mãe, já que tinha decidido fotografar aquela festa e ainda tinha filme na máquina. Foi nossa última foto juntos. Depois, eu, ele e meus amigos assistimos ao jogo. Lembro que falei para o meu pai: "Até vou torcer pro teu time!" Como se eu nunca tivesse feito isso antes. E o Grêmio ganhou.

Não sei se o meu pai, onde estiver, vai torcer para o Inter hoje à noite. Talvez. Afinal, ele sempre me ensinou a torcer por times gaúchos contra os demais adversários. A final do Brasileirão em 1981 foi contra o São Paulo e eu ajudei a torcer para o Grêmio. O Grêmio já tem dois títulos da Libertadores. Os gremistas em geral eu sei que vão secar desesperadamente, pois temem perder a exclusividade do título mundial, como já perderam a do hepta. Mas se meu pai estivesse aqui, eu cobraria dele que torcesse para o Inter. E acho até que ele conseguiria. Acho. Ou fingiria muito bem para agradar o filho.