Fernando Ribeiro
Morreu Fernando Ribeiro, um dos mais importantes nomes do movimento musical gaúcho dos anos 70, contemporâneo de Almôndegas e Hermes Aquino. Ouvi Fernando pela primeira vez em 1976, tanto no programa de Mr. Lee (Júlio Fürst) quanto na programação normal da Rádio Continental. Suas músicas geralmente eram apresentadas com a observação "poeta do Porto", mas quem fazia as letras mesmo era o seu parceiro Arnaldo Sisson. Fernando foi contratado pela EMI e, em suas viagens ao Rio de Janeiro para gravar o primeiro LP, ligava para a rádio e entrava no ar, no Mr. Lee em Concerto, contando como haviam sido as sessões. Lembro bem da voz dele dizendo "gravamo Ultimamente, gravamo Não Demora...". Entre uma viagem e outra, ele comparecia ao estúdio da rádio para dar mais detalhes. Pouquíssimos músicos gaúchos promovidos por Mr. Lee conseguiram lançar LP e Fernando foi o único que teve a gravação divulgada passo a passo para os ouvintes. Por isso mesmo, é uma injustiça que o programa não mais existisse quando o disco chegou às lojas, em 1977.
"Em Mar Aberto" é uma obra-prima de MPB, um disco praticamente perfeito. A produção que a gravadora lhe proporcionou foi digna de um astro. Ali estão jóias como "Ultimamente", "Não Demora", "Hora Imprópria" e "Estado de Espírito". Coincidência ou não, a EMI viria a publicar um anúncio institucional de página inteira com a frase: "Eu quero um estado de espírito!" Tudo indicava que Fernando teria uma bela carreira pela frente, ainda mais com o apoio de uma major. Mas o mundo deu voltas. A gravadora gaúcha ISAEC, que até então apenas terceirizava seus estúdios, resolveu lançar-se como um selo. Contagiado por um idealismo bairrista, Fernando deixou a EMI para prestigiar a gravadora local. O problema é que a ISAEC tinha algumas deficiências típicas de uma gravadora pequena. O resultado é que o segundo LP de Fernando Ribeiro, "O Coro dos Perdidos", não teve a mesma qualidade de produção do anterior.
Em 1979, Fernando Ribeiro mudou-se para São Paulo e passou a trabalhar no Estúdio Vice-Versa, praticamente abandonando sua carreira de artista. A parceria com Arnaldo Sisson nunca mais foi retomada. Em 1988, o produtor cultural Luciano Alabarse trouxe Fernando a Porto Alegre para um show nostálgico, apenas para matar a saudade. Foi talvez a sua última apresentação. Já há algum tempo, Fernando enfrentava problemas cardíacos e respiratórios. Faleceu ontem, em São Paulo, no Instituto do Coração, aos 56 anos. Embora estivesse afastado da música, nós, os fãs, sempre tínhamos uma esperança de que ele voltasse. Ao menos, ainda temos os discos. Poderiam ser relançados em CD.
P.S.: "Em Mar Aberto" foi relançado em CD em 2011 pelo selo Discobertas, juntamente com os dois álbuns de Hermes Aquino da mesma época. Mais detalhes aqui.
5 Comments:
Por que não se fala, não se ouve, não se comenta nada sobre Fernando Ribeiro? Eu curto muito música, escuto de tudo, e reputo Fernando Ribeiro como um músico, instrumentista, intérprete e compositor com uma qualidade superior, como poucos surgiram na MPB. Recentemente se fez uma homenagem à Maysa, há algum tempo até do Carlinhos Hartlieb lembraram, imagina, por que nunca se fez algo deste tamanho em nome do Fernando? Vamos esperar o aniversário de 10 anos da morte? os 20? É uma loucura... Graças a Deus, tenho os dois discos (a discografia completa... brincadeira), mas bem que merecia uma passagem para CD, não? Que sabe falamos com o Charles Gavin, dos Titãs, o cara é especialista neta área. Ou quem sabe a RBS um dia resolve prestar esta homenagem? Grande o homem é.
Abraço Léo Dantas dantasleo@hotmail.com
Fernando Ribeiro, uma ausência sentida!
Moramos no mesmo bairro por anos. Ele, na Coronel Bordini e eu na Avenida América. Não fomos amigos, mas sempre nos encontrávamos por acaso.O mesmo acontecia com suas duas irmãs, Xuca e Beth.Coincidentemente, vim para o Paraná em 1979 e por isso perdemos o contato. Volta e meia perguntava aos meus amigos por onde andava o Fernando Ribeiro. Nenhuma resposta, simplesmente desapareceu. Nunca vou me esquecer quando ele me contou que sua irmã mais nova tinha tomado tanto sol nas praias de Capão da Canoa que ao tentar curtir o carnaval em na SACC (Sociedade dos Amigos de Capão da Canoa) não deicaram ela entrar por que se tratava de uma pessoa estranha aos quadros do cluve. Fernando sumiu e parece que foi sem se despedir de ninguém. Ao ler o Blog do Emilio Pacheco entendi seu sumiço ao mudar-se para São Paulo definitivamente. De lembranças que me são ainda nítidas, ficou a voz suave e delicada ao som de seu violão. Me parecia um cara tranquilo com tudo em sua volta. Era um musico verdadeiro e sempre inventava o tom que lhe parecia certo. Gostava de usar a famosa calça Lee de veludo branca-bege e o famoso sapato mocassim. Apesar de não termos sido amigos de verdade, ele deixou lembranças. Conheci também o Júlio First (Mr. Lee) no colégio São Pedro e seu famoso tarol da Banda do colégio e seu fusca incrementado pelo qual as garotas do Santa Clara tinham sonhos eróticos. Foram duas pessoas que sem muito contato comigo, me fizeram admirá-as.Recentemente soube que o Kado Villarinho, faleceu após viver anos na Ilha do Mel no Paraná. Estes dois foram realmente muito amigos, junto com o Uca (que mora em Brasilia),e o Luis Francisco irmão do Uca e da Maria do Carmo. Tudo passa nesta vida e fiquei sensibilizado com a crônica do Fernando Ribeiro
Abraços
do José Francisco (UCO)
jfgwanth@brturbo.com.br
Caro Emílio,
sou admirador da obra do Fernando Ribeiro e sobre ele escrevi um post em meu blog O Fazedor de Auroras, em 20 de julho de 2010.
Acho que ele está muitíssimo esquecido, o que é triste, porque as pessoas não podem conhecer seu belo trabalho com o Arnaldo Sisson (outro esquecido).
Li no seu blog o interesse pelo Fernando e por isso resolvi fazer este contato, pra dividir essa admiração, a lembrança de um artista e de seu/nosso tempo.
Um abraço e obrigado.
Jorge Finatto
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Um grande artista, cantor e intérprete de gabarito.
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