quinta-feira, agosto 10, 2006

Fim de noite

Quando eu tinha 20 e poucos anos, imaginava que conseguiria escrever uma coluna diária sobre música, se tivesse chance. Assuntos nunca me faltariam. Eu sabia que os jornais não publicavam colunas diárias sobre outros assuntos que não esportes, política e economia. Mas, numa situação hipotética, julgava-me capaz de discorrer sobre meu assunto preferido todos os dias.

Pois bem: neste blog eu posso escrever sobre o que eu quiser, inclusive música. E às vezes fico sem inspiração. Mas existe um caso pior: na terça-feira, dia 8, foi o fechamento do International Magazine, que é um jornal mensal. Como sou free-lancer, humildemente desculpei-me com o editor, mas disse que não colaboraria na próxima edição. Claro que deixei para a última hora! Aí, alguns contratempos me tiraram a inspiração para sequer pensar numa crônica ou algo mais inventivo. E eu achava que poderia encarar uma coluna diária!

Nestas horas, admiro cronistas que escrevem todos os dias. Faça chuva ou faça sol, nos bons e nos maus momentos, eles têm que marcar presença com textos bem escritos, que valham a pena ler. E conseguem. Luis Fernando Verissimo já escreveu diariamente, hoje colabora três vezes por semana. Mas outros, como Paulo Sant'ana, comparecem sol a sol. Ou lua a lua, se considerarmos que um jornal fecha à noite. Claro que ser "só" jornalista ajuda bastante, por se estar envolvido com as notícias 24 horas por dia. Ainda assim, é um mérito.

Depois de dois dias de "veranico fora de época" (aquele que acontece todos os anos em Porto Alegre mas só eu e os meteorologistas lembramos), a temperatura desceu um pouco. Voltei a pé para casa e os termômetros de rua marcavam 16 graus. Agora deve estar menos. Hoje a Zero Hora publicou um encarte sobre o centro de Porto Alegre e mostrou duas famílias que moram lá. Embora não tenham citado o endereço exato, a referência foi suficiente para saber que era o meu antigo prédio, entre Siqueira Campos e Mauá, com sacada para o Guaíba. É incrível como aquele edifício está virando "cult", atraindo intelectuais e profissionais de comunicação. A reportagem falava o tempo todo em "morar no centro", mas pegou justamente um local de exceção. Ter residência na Rua da Praia, por exemplo, não deve ser a mesma coisa. Lembro de um amigo que morava na General Vitorino, bem no fervo, mas o edifício foi demolido. Não sei o que estão construindo no lugar.

Meu filho vai estar comigo no Dia dos Pais. Nada mais justo. Eu estou aqui, no meu apartamento, sentindo o frio da noite entrando pela janela e chegando a uma conclusão: não é a solidão que dói, é a saudade. Solidão bem resolvida transmite uma paz incrível. O perigo é a gente se acostumar.