Fechadão
Eu me tornei fechadão quando amadureci um pouco e entendi que meus assuntos não interessavam a todos. Na infância, por exemplo, a gente traz os brinquedos para mostrar para os adultos e perguntar qual acham mais bonito. Quando percebi que meus brinquedos só interessavam a mim, parei de jogar conversa fora. Tenho interesses bem específicos e é difícil encontrar com quem compartilhar. Por isso adoro a Internet: aqui se encontram os "iguais", mesmo que seja lá do outro lado do mundo. Mas nem sempre foi assim. A isso some-se um agravante: eu fui filho temporão, o mais moço com uma diferença enorme dos demais. Então meus pais me apresentavam a seus amigos e lá vinham eles com aquele "sorrisinho de agradar nenê" me cumprimentar e fazer aquelas perguntas de praxe: "Em que colégio está estudando? Em que ano?" Ora, que assunto eu, no começo da adolescência, iria ter para conversar com gente assim? Lembro de uma noite, no Clube do Comércio, em que um amigo de meu pai se virou para mim e perguntou: "A quem tu saiu pra ser tão quieto?" Esse tipo de pergunta me irritava e me fazia silenciar ainda mais.
Houve uma época, em minha infância, em que eu falava bastante. E os adultos ouviam fascinados com aquele guri de nove ou dez anos que já tinha aquelas opiniões todas. O que eu dizia em si não era levado a sério, engraçado era me ouvir falar. Quando criei consciência disso, fechei a boca. Passei a guardar meus assuntos para quem fosse realmente valorizar. E assim é até hoje. Por outro lado, tem gente que consegue conversar sobre qualquer bobagem. Hoje esfriou um pouco, né? Ontem fez mais calor. Será que amanhã vai chover? Puxa, não vejo a hora de chegar o Carnaval. Adoro Carnaval. Olha a roupa daquela mulher! E o Grêmio, hein? E o Inter, hein? E o Big Brother, que coisa, hein? E aí, quem você acha que vai para o paredão? Viu ontem a novela? Eu não consigo ser assim.
Meu pai certa vez disse que eu não era tímido e sim introspectivo. Talvez. A verdade é que só consigo me soltar quando estou em meio a pessoas que entendem do que eu entendo e gostam do que eu gosto. Fora disso, não vou gastar saliva para tecer os comentários meteorológicos de praxe ou falar de coisas minhas para quem não vai se interessar. Por isso entendo Luis Fernando Verissimo. Ele é quieto porque prefere guardar suas idéias para seus leitores. Em vez de falar, escreve. Ele está certo. Não tem nada que perder tempo tagarelando com quem não iria entender, mesmo.
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