sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Encarando a prova

Às vezes lembro das provas e concursos que já fiz e percebo que, na maioria deles, eu sabia se iria ser aprovado ou não. Na véspera do concurso da Caixa, por exemplo, lá pelas oito da noite eu fechei os livros e pensei: "estou preparado!" A matéria estava assimilada, não havia por que continuar estudando até o último minuto só porque a prova seria no dia seguinte. E deu certo. Fui aprovado com boa colocação. Por outro lado, nas duas vezes em que concorri para o Banco do Brasil, senti desde o início que não iria passar. O fato de o concurso da Caixa ter uma prova de nível intelectual em vez de conhecimentos gerais fez uma diferença enorme para mim.

Assim também, nos dois vestibulares em que passei, eu já esperava. Até tive um certo receio no de Jornalismo, pois eu estava concorrendo com gente recém saída do 2º Grau e só fiz um cursinho rápido de Geografia e História. Não lembro como consegui me safar em matérias como Matemática, Física, Química e Biologia, mas meu ótimo desempenho em Português e Inglês (que naquele tempo ainda era a única matéria com uma prova inteira) foi decisivo. Mas eu fui reprovado em meus primeiros vestibulares e já sabia que ia ser assim. Até me irritava ouvir as pessoas que não sabiam das minhas dificuldades dizer que eu ia passar, com aquele sorrisinho esperto de quem conhecia melhor do que eu o meu destino. Claro que um pensamento negativo atrapalha, mas à medida que vai chegando o momento a gente percebe se vai dar ou não. E muitas vezes é tarde para tentar reverter.

Só houve um teste que eu fiz sem ter a mínima idéia como me sairia: o exame de direção. Ao contrário da maioria dos rapazes da minha geração, eu não havia aprendido a dirigir antes do tempo. Nem me interessei, na verdade. Lembro de duas ou três vezes em que peguei a direção sob a orientação do meu pai, mas em geral carro nunca me atraiu. Então fiz auto-escola aos 18 anos, sem prática nenhuma, com todas as dificuldades e inseguranças de um iniciante. Não lembro quanto tempo fiquei aprendendo, mas foi bastante. Expliquei ao meu instrutor que, embora eu sempre tivesse morado em Porto Alegre, não conhecia bem as ruas e os trajetos. Não era de sair muito e, quando saía, não prestava atenção nos itinerários. Ele imaginou que isso poderia ser sanado me fazendo percorrer a cidade. Mas não, eu só ficava preocupado em dirigir bem e não memorizava a seqüência de ruas. Até hoje, se alguém ficar me dizendo "dobra aqui" e "entra ali" para me levar a algum lugar, eu não lembro mais nada depois. Se me explicar o trajeto todo antes, aí pode ser que eu guarde.

Então eu fui fazer o exame com aquela dúvida. Será que eu conseguiria passar? Felizmente, deu certo. Mas eu ainda levei anos para perder certos medos e melhorar minhas habilidades. Há quem me considere mau motorista, mas muito disso tem a ver com a mentalidade do brasileiro. Aqui, dirigir bem é ter segurança para correr. Quem observa a velocidade e obedece às leis de trânsito chega a ser ridicularizado às vezes. Por outro lado, tive a experiência de dirigir nos Estados Unidos e fiquei encantado com um trânsito que funciona como um relógio: boas ruas, ótimas estradas, traçado inteligente, farta sinalização (o nome da rua pela qual você está cruzando aparece numa placa suspensa bem visível acima de você) e, principalmente, motoristas civilizados.

Pois bem: venceu minha carteira de motorista. Venceu vencida, mesmo, inclusive os 30 dias de tolerância. Não estou muito a fim de fazer as três aulas para renovar. Acho que vou arriscar a prova escrita. Por enquanto, ainda não sei dizer se vou passar. Tenho que estudar um pouco primeiro e também aproveitar os testes simulados que estão disponíveis no site do Detran (ao menos foi o que me disseram). Se as perguntas seguirem a lógica da racionalidade e não do que se verifica na prática, quem sabe até eu não me saia melhor do que muitos "bons motoristas" que andam por aí?