Carlos Aleixo
Carlos Aleixo e minha irmã Beatriz Pacheco se conheceram em 1996 de uma forma bastante curiosa: pelo tele-amigos, um precursor telefônico dos chats da Internet. Não havia como enviar fotos. Quando se viram pessoalmente, a química foi rápida. Logo estavam namorando. Tomando emprestadas as palavras do escritor Mario Sergio Conti para descrever o casamento de Pedro e Teresa Collor em "Notícias do Planalto", Carlos e minha irmã tiveram uma relação "turbulenta, mas forte". De vez em quando brigavam, mas se amavam intensamente. Às vezes ela o mandava embora e me dizia que "dessa vez" era definitivo. Eu só ria por dentro. Tempos depois eu telefonava para ela e nem me surpreendia de ouvir a voz dele atendendo.
Fazia menos de um ano que eles estavam juntos quando eu me separei e fui morar na casa de minha irmã por algum tempo. A convivência com o Carlos gerou alguns atritos no começo, pois, de formas diferentes, amávamos a mesma mulher. Era normal que, pelo menos de um dos lados, surgisse ciúme. Chegamos a nos desentender uma vez. Mas depois percebemos que isso só faria sofrer uma pessoa a quem queríamos bem e passamos a nos entender como bons cunhados. Lembro de um Natal em que viramos a madrugada conversando e dando ombro amigo um ao outro. Ele fazia uma salada de maionese como ninguém e sabia que eu gostava. Mas nada era mais comovente que o carinho que o meu filho tinha por ele. Não sei se era um vínculo de identidade com a barba, que eu também uso, mas o Iuri, que é um menino autista, enxergava o Carlos e ia correndo dar um beijo nele. Do jeito dele, só encostando os lábios. E o Carlos se emocionava com isso.
Também antes de completarem um ano de relacionamento, foi constatado que minha irmã tinha o vírus da AIDS. Surpreendentemente, ele não foi infectado, mesmo tendo namorado com ela sem camisinha por vários meses. Ainda assim, foi um momento de crise para os dois. Mas, uma vez superada, cada um assumiu sua posição de forma corajosa. Minha irmã se tornou ativista na prevenção da AIDS e Carlos direcionou sua atividade na Delegacia Regional do Trabalho para atendimento a trabalhadores com HIV. Passaram a atuar em parceria, participando de palestras e seminários. Apareceram no Globo Repórter e foram capa da Zero Hora em 1999.
Infelizmente, quem tanto fez pelos outros não se preocupou em cuidar de si mesmo. Embora livre do HIV, Carlos descobriu no ano passado que estava com câncer de próstata em estágio avançado. Continuou trabalhando enquanto pôde, mas nas últimas semanas seu quadro era crítico. Carlos Antônio de Oliveira Aleixo faleceu hoje pela manhã, aos 54 anos. Deixa três filhas do primeiro casamento. Minha irmã perdeu o seu companheirão, mas o carinho dos filhos e dos irmãos a ajudará a vencer mais esse revés. Ela é uma guerreira e não vai abandonar a batalha.
1 Comments:
A história dos dois é emocionante!
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