quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Marketing da pressão

No tempo em que era praticamente impossível encontrar vídeos de música e shows em lojas de Porto Alegre, embora eles existissem no exterior, eu tinha meus fornecedores. Um deles é meu amigo até hoje e de vez em quando ainda me consegue algum material. Só coisas inéditas, pois as "normais" estão todas disponíveis no comércio real e virtual. Mas, nos anos 80, eu dependia de meus contatos. Um deles, que morava em outro estado, enviava regularmente um catálogo aos clientes, sempre acompanhado de uma carta circular. E, embora escrevesse bem, tinha um discurso um tanto constrangedor, como se quisesse obrigar a todos a comprar seus produtos. Dizia coisas como "para que possamos manter nosso acervo sempre atualizado, é importante que os clientes mantenham a regularidade de uma encomenda por mês". E também, ao sugerir suas fitas como presente de fim de ano, usava de argumentos agressivos que em última análise queriam dizer: você tem que comprar de mim, não das lojas.

Tempos depois, entrei em contato com um colecionador de filmes antigos. Ele me enviou um envelope grande recheado de folhetos com títulos de filmes, cartazes, fotos e informações. Ali, entre outras coisas, ele dizia que iria deixar de enviar seu catálogo para algumas pessoas que "não têm encomendado mais nada, demonstrando desinteresse em nosso trabalho". E tentava convencer também os colecionadores a não comprar só filmes com legendas, pois no caso de faroeste não é preciso saber inglês para captar a emoção de uma briga ou troca de tiros e blá blá blá.

Eu sei que não deve ser fácil trabalhar com vendas, seja informalmente ou no comércio regularizado. Mas, no caso desses "fornecedores", é difícil fazê-los entender que o cliente não é obrigado a comprar nada. É muita falta de tato querer, no grito, impor ou qualificar a demanda. Aqui em Porto Alegre existem excelentes lojas de discos onde às vezes fico quase um ano sem aparecer. Mas quando chego, sou sempre bem atendido, mesmo que não compre nada. Até pode ser que, na intimidade, o lojista comente: "Aquele cara não vinha aqui há um ano e agora veio só para olhar." Mas, dentro de loja, nunca fui pressionado. E, mesmo que fosse, não adiantaria.

O vendedor informal tem esse toque amadorístico: ele quer vender na marra. Com isso, torna-se inconveniente pela insistência. Nunca esqueci esse fornecedor que pedia que os clientes encomendassem uma fita por mês. Ou o outro, que queria que seus compradores se interessassem por filmes sem legendas mesmo não sabendo inglês. Eu gosto que me mandem catálogo. Sou um notório consumista. Mas não façam marcação cerrada, por favor. Deixem-me escolher com calma o que me interessa e o momento certo de comprar. Também não queiram me impor seus valores. O que a maioria procura pode não ser exatamente o que me agrada.