quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Papagaios de pirata

Em minha infância e adolescência eu me deixava impressionar por pequenas janelas de notoriedade. Lembro como fiquei eufórico e me senti importante quando meu nome foi publicado na revista Pop, em 1973, numa lista de ganhadores de uma promoção. A relação incluía centenas de premiados em letras microscópicas, mas para mim, eu havia sido citado na Pop. E o pior é que, como o endereço foi publicado com erro, nunca recebi o brinde. Hoje vejo de outra forma: pode ter sido uma bobagem, mas é um registro de que eu fui leitor de uma revista histórica.

Assim também, eu invejava quem aparecia na imprensa ou em outra vitrine pelos motivos mais fúteis. Em 1970, num Gre-Nal, um torcedor atirou uma pedra no jogador gremista João Severiano. Comentei com minha mãe: "Como esse cara deve estar orgulhoso de ver isso citado no jornal!" No colégio eu tinha um livro de Matemática que mostrava a foto de um grupo de alunos. Eu sentia pena do sujeito que ficou bem na espiral e teve sua imagem cortada. Quando foi mostrado na TV o clip de Hermes Aquino cantando "Nuvem Passageira", uma das cenas foi filmada na Escola Técnica Parobé, durante uma aula de Educação Física. Um dos estudantes apareceu bem na frente, fazendo exercícios. "Que sorte a dele", eu pensei. Quando os seqüestros tinham final feliz eu achava que, para os seqüestrados, tinha valido a pena pelo destaque.

Até que um dia, fui na TV Difusora buscar um LP que eu havia ganhado do Portovisão, no quadro de Fernando Vieira. Não entendi bem o que estava acontecendo quando um rapaz da produção me enfiou às pressas no estúdio "para ver se ainda dava tempo de participar". Sentei-me ao lado de outros que também estavam com discos na mão e só então entendi que eles iriam mostrar os ganhadores. Eu havia escolhido o disco "Olias of Sunhillow", de Jon Anderson, e a câmera deu um close da capa que eu estava segurando, depois abriu para plano geral. Devo ter aparecido por uns dez segundos no máximo. Mas, quando fui pegar o ônibus para voltar, imaginei que vários passageiros iriam me reconhecer. Só caí na real depois de uma semana, ao constatar que apenas dois amigos meus tinham me visto.

Pois hoje quem está em evidência é a moça Katilce Miranda, de Volta Redonda, por ter sido puxada da platéia pelo cantor Bono, do U2, dançado com ele e ter-lhe dado um beijo. Foi como tirar a sorte grande, pois está aparecendo em todos os veículos de imprensa, virou celebridade no Orkut e já se fala em fotos para a Playboy. Eu não duvidaria. Lembram da fogueteira? Outro exemplo muito parecido é o do Beijoqueiro, que fez praticamente uma carreira colecionando beijos em celebridades. É a fama fugaz dos papagaios de pirata. Aproveitem enquanto dura.