quinta-feira, setembro 01, 2005

Prevendo o óbvio

Nunca fui muito fanático por xadrez. Aliás, jogos em geral não me atraem. Não me convidem para jogar cartas, por favor! Por damas eu até tinha algum interesse (sem trocadilho!), até que comecei a esbarrar em divergências sobre as regras. E fiquei ainda mais surpreso quando descobri que os americanos jogam de uma forma totalmente diferente. Meus entusiasmos por War, Banco Imobiliário e outros jogos da moda nos anos 70 foram curtíssimos. No máximo, eu jogava Fla-Flu (pebolim) ou futebol de botão. E muito mal.

Mas, se eu tivesse me interessado por xadrez, acho que teria sido um excelente jogador. Porque, a menos que algo me escape, muito do xadrez tem a ver com saber antecipar as jogadas possíveis. E isso eu faço na vida real. Às vezes fico impressionado quando vejo alguém concluir, com surpresa, algo que eu já estava enxergando fazia tempos. Ora, certas coisas são evidentes. Ou deveriam ser.

Não descarto a hipótese de existirem pessoas com poderes premonitórios, mas não acredito que eu os possua. Acho que sou apenas bom observador. Em razão disso, às vezes os amigos me dizem: “Calma, não fica nervoso antes do tempo!” O que posso fazer se estou vendo de forma cristalina o que vai acontecer? É mais ou menos como aquela piada do sujeito que caiu do décimo andar e, ao passar pelo quinto, disse: “Até aqui, tudo bem.” Só que a analogia seria um pouco diferente. Eu estaria caindo do décimo andar e, ao passar pelo quinto, alguém na janela diria: “Calma, você não se esborrachou ainda!”

Felizmente o contrário também acontece, às vezes. Mantenho-me calmo em situações em que outros ficam nervosos. Mas minhas previsões nem sempre dão certo. Em alguns casos eu me entusiasmo, penso que tenho algum dom sobrenatural e começo a fazer estimativas furadas. As lojas, por exemplo. Adoro tentar imaginar se vão dar certo ou não. “Essa aí não vai durar seis meses”, pensei certa vez de uma loja de material fotográfico. Mas ela já existe há anos, até perdi a conta. Raramente vejo alguém lá dentro, mas ela resiste. Por outro lado, algumas franquias da praça de alimentação do Shopping Praia de Belas eu logo vi que não iriam dar certo. E dito e feito.

O bom enxadrista leva vantagem por enxergar na frente, mas nem sempre vence seus jogos. Assim também, muitas vezes quebrei a cara. Ainda não aprendi a usar minha habilidade de forma lucrativa, por exemplo. Não consigo analisar o padrão de comportamento dos números da Super Sena. Mas certos desfechos e conseqüências me parecem inevitáveis e me surpreende que nem todos cheguem com a mesma rapidez a conclusões idênticas. Eu deveria me sentir gratificado quando alguém me diz, depois de semanas ou meses: “É, você tinha razão.” Mas, no fundo, fico mesmo é irritado de ver que há pessoas que levam tanto tempo para concluir o óbvio.