quarta-feira, setembro 07, 2005

Objeto passeal

As mulheres costumam reclamar que nós, homens, as tratamos como objetos sexuais. Ora, não é bem assim. Gostar de sexo é normal. E é algo que não se pode fazer sozinho ou não é sexo, é outra coisa. Logo, precisamos da companheira. Por outro lado, cada vez mais percebo o quanto as mulheres querem que seus maridos, namorados ou mesmo pretendentes, as levem para passear. É como se fosse, por natureza, uma das obrigações do homem. Assim como algumas pensam que a mulher nasceu para cozinhar para o marido e cuidar de suas roupas, elas também acham que a contrapartida deve ser levá-las para jantar fora, para dançar, para caminhar no parque, enfim, para sair. Você está tirando uma sesta especialíssima num domingo à tarde, crente que está livre de qualquer compromisso, quando sente aquela mão sacudindo e a voz cobrando: "Acorda! Vamos sair, aproveitar o dia!" E quase pensa em virar para o lado e responder que está com dor de cabeça.

Deveria existir entre os homens um movimento semelhante ao das mulheres que não querem ser tratadas como objetos sexuais. O homem também não gosta de se sentir, digamos assim, um objeto passeal. Ora, o que há de errado em uma vidinha caseira, ainda mais com as mordomias que temos hoje? Controle remoto, forno de micro-ondas, DVD, CD, tele-entrega, tudo caindo nas mãos. Por que não curtir tudo isso no aconchego do lar, com toda a segurança? Mas não, as mulheres querem passear. E nós, os objetos passeais, servimos para atender a essa necessidade.

Dançar é um caso à parte. Para algumas mulheres, é algo tão essencial quanto comer, dormir e respirar. Para o homem, dançar sempre foi um meio e não um fim em si. O solteiro sai para dançar para conhecer gente, fazer amizades, enfim, praticar um ritual dissimulado e socialmente correto de prospecção de mulheres. Pode ser para namorar, para transar ou só para ficar, mas sempre existe um objetivo além da pista de dança. Já na fase de namoro, a gente até dança como parte do jogo de conquista, que precisa ser renovado. Mas o casamento – informal ou de papel passado – deveria ser um estágio em que essas práticas estariam superadas. Ora, dançar é coisa de solteiro. Até que um dia, quando você menos espera, sua excelentíssima esposa se sai com esta:

- A gente podia sair pra dançar, o que você acha?
- Dançar? Mas nós já somos até casados!
- E daí? O que tem a ver o cós com as calças? Eu quero dançar, ora!

Você pode até dar uma desculpa, mas corre um risco. Sabe aquelas famosas "festas do escritório" em que não se pode levar o cônjuge? Em que a esposa vai sozinha e jura que não acontece nada de mais, todos se respeitam? Pois é: geralmente o pessoal dança. E por mais que tentem convencer de que é tudo na maior pureza, a gente sabe que pode pintar um clima, como nos velhos tempos. É bom não arriscar e levar a patroa na danceteria, de vez em quando. Fazer como diz a Rita Lee: dançar pra não dançar. Do contrário, pode a mulher resolver sair para passear com o colega com quem dançou e o resto, sabe-se lá. Um dia, lá está a descasada comentando com as amigas:

- Eu me separei do meu marido porque ele não cumpria com suas obrigações. Me deixava só na vontade. Homem assim não serve pra nada.
- Ah, concordo com você. Sexo é importante num casamento.
- Sexo? Quem falou em sexo? Meu marido era um touro, queria sempre! Por ele, passaríamos o dia inteiro na cama, só transando! Mas não me levava para passear. Raramente a gente ia num restaurante. Pra dançar, então, nunca. Só em festa de fim-de-ano da firma e mesmo assim eu tinha que arrastá-lo para a pista. Um dia ele me falou que iríamos sair, mas era uma surpresa. Fiquei toda entusiasmada, imaginando que iríamos jantar fora ou dançar. Me arrumei toda pra ele. Quando vi, o desgraçado estava me levando para um motel! Ninguém merece um homem assim!

Enfim, vai entender as mulheres. Elas querem passear. Querem dançar. E nós, os objetos passeais, temos que atendê-las para que não nos abandonem.