segunda-feira, julho 11, 2005

Política? Que política?

Eu diria que, nos 20 primeiros anos da minha vida, fui um alienado total e convicto. Política não me interessava. E se alguém viesse tentar me "conscientizar", só conseguia me deixar irritado. Do ponto de vista pessoal, isso tinha um lado bom. Eu não me incomodava com a situação do país. Porém, entre os meus amigos havia um em especial que era politizado. Lembro de uma noite em que saímos para um barzinho e ele estava na fossa. Tudo porque o então Presidente João Figueiredo acabara de instituir o voto vinculado, isto é, a obrigação de votar em candidatos de um mesmo partido. Eu não estava nem aí. Só o que me deixava de baixo astral era levar um fora de uma namorada, por exemplo. A situação política que se danasse.

Aos poucos eu fui mudando. Senti uma emoção muito forte quando Tancredo Neves foi eleito. Eu estava indo para casa para almoçar quando escutei o barulho da multidão exultante em frente à Prefeitura de Porto Alegre. Pela primeira vez eu via o nosso povo comemorar algo concreto, de real importância, que não apenas uma Copa do Mundo ou Carnaval. A Faculdade de Jornalismo me pegou num ótimo momento, cheio de vontade de conhecer a história política que havia passado despercebida bem debaixo do meu nariz nas décadas anteriores. E também o que aconteceu antes, especialmente a Era Vargas. Devorei livros sobre o assunto.

Mas Tancredo não chegou a assumir. Com ele morreram os sonhos de um país ideal. Como eu disse na época, o Brasil ganhou um Kennedy. Alguém que, por não ter tido tempo de ser posto à prova, manteve a mística do super-herói que iria salvar os fracos e oprimidos. Mas eu nunca me iludi. Nem Tancredo, nem Lula, nem qualquer outro presidente seria capaz de fazer um milagre. O que o Brasil precisa é de um processo democrático estável e de um povo persistente. Que aprenda, devagar e sempre, a derrubar governos nas urnas. Errando até acertar.

Se eu escrevesse numa coluna de jornal e não num blog, provavelmente já teria sido obrigado a comentar sobre o PT. Não agüento mais receber mensagens dos antipetistas eufóricos, que debocham e festejam a derrocada de um sonho. Eu não torci pelo fracasso da administração anterior, nem nunca me juntei ao coro de "Fora FHC". Espero que a nação tenha maturidade para sair dessa crise sem que a democracia sofra baixas. E também continuo na torcida: vai lá, Tarso!

Quase que este texto toma seu próprio rumo e se encerra sozinho, fugindo à intenção original. O parágrafo acima seria um fecho perfeito, não concordam? Mas ainda não cheguei onde queria. No fundo, ainda sou aquele mesmo jovem de 19 anos que se preocupava em primeiro lugar consigo mesmo. Pode até ser um mecanismo de defesa. É chato ver que o PT vai mal, mas o que importa é que eu vou bem. Muito bem. Que me interessam os dólares na cueca? Tive coisas bem mais interessantes com que me preocupar nesse fim-de-semana. E muito bem acompanhado!