A ineficácia do "não" cordial
No filme "Assédio Sexual", há uma cena em que Michael Douglas consegue provar, por meio de uma gravação, que disse não ao assédio de Demi Moore. Demi tenta argumentar que é comum alguém dizer não quando quer dizer sim e advogada responde, irredutível: "Não significa não." É claro que existem pessoas que gostam de dizer não para se fazerem de difíceis ou dar início a um jogo de conquista. O músico gaúcho Nélson Coelho de Castro explorou isso muito bem em uma de suas mais bonitas composições, "Teu Não é Sim". Mas, em princípio, deve-se presumir que um "não" tem o significado explicitado pela advogada do personagem de Michael Douglas e não o da musa do Nélson.
Uma das profissões mais ingratas deve ser a de vendedor. Seus chefes e instrutores lhes orientam a nunca aceitar um não como resposta. E aí nós, os consumidores em potencial, é que nos tornamos vítimas dessas técnicas que, embora superadas, devem dar certo ou não estariam sendo ensinadas até hoje. Mas eu, particularmente, detesto que me perguntem se já peguei minha cortesia da revista tal ou que me chamem para responder sobre minha necessidade desse ou aquele produto. Essas vendas disfarçadas de pesquisa acabam atrapalhando o trabalho dos verdadeiros pesquisadores, como constatei quando apliquei meu questionário para a monografia da Faculdade.
Enfim, existem pessoas para as quais o "não" precisa ser bem antipático, ou não cola. A gente tenta ser gentil, tenta manter uma relação cordial e, quando menos espera, recebe uma nova investida. Aí, nada mais resta do que virar o rosto, tapar os ouvidos e fechar a porta.
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