sexta-feira, julho 01, 2005

Mudar por mudar

Esta minha revolta por ser obrigado a atualizar software pra continuar fazendo a mesma coisa, como costumo grifar, me fez perceber o quanto sou avesso a mudanças gratuitas. Há uma sutil diferença entre mudanças necessárias e gratuitas. Existem pessoas que resistem a qualquer tipo de mudança. Não me vejo assim. Sei reconhecer quando algo muda para melhor. Por exemplo: eu já sentia falta de um substituto para o disco de vinil muito antes de o CD existir. Os LPs eram frágeis, incômodos e difíceis de conservar. Assim também, as fitas VHS tinham os seus inconvenientes. Sou fanático pelo formato DVD, embora já tivesse videodisco antes. Sou a favor da fila única, dos saques e pagamentos via terminal, das compras pela Internet, dos aparelhos de barba descartáveis, do forno de microondas, do fio dental extra-deslizante. É verdade que tenho um certo saudosismo pelos filmes Super-8, que coleciono há dez anos. Também lamento que a fotografia em slide esteja se encaminhando para a extinção ou para um nicho restrito. Mas isso não significa rejeição do que veio depois. Por outro lado, não tenho a menor saudade da máquina de escrever.

No entanto, há quem goste de mudar por mudar. E alguns até dizem que faz bem, pois renova os fluidos. É nessa mentalidade que eu não me encaixo. Sou o tipo da pessoa que, se conseguir montar a residência ideal, posso morar nela a vida toda sem alterar a disposição dos móveis. Pra que mexer no que está bom? Minha filosofia de vida nesses casos é: planejar bem para fazer uma vez só. Quando minha mãe resolvia mudar a cama ou um armário de lugar eu só lembrava da vez anterior em que ela havia feito isso e me perguntava o que tinha saído errado. Tem gente que se diverte agindo assim. Eu não. Sempre tenho a impressão de que faz pouco tempo que foi feita a última mudança e questiono: de novo?

No caso do meu carro, eu admito que já deveria tê-lo trocado. Falta dinheiro. Mas o televisor que tenho no meu quarto vem funcionando muito bem há mais de dez anos. O botão de liga/desliga soltou, mas consigo prendê-lo com um calço. O equipamento de som já tem 15 anos. O rádio começou a falhar, mas o amplificador e as caixas continuam perfeitos. Está nos planos a compra de um home theater, mas quando vejo o tamanho das caixas desses equipamentos mais modernos, fico decepcionado. Será que elas conseguem proporcionar a mesma qualidade das portentosas Technics que tenho hoje? Meu provedor e meu e-mail são os mesmos desde 1996.

Muitos adoram ficar trocando de fogão, de geladeira, de televisor, de mobília, apenas pelo prazer de comprar. Os aparelhos antigos continuam funcionando bem, mas chega um momento em que a simples visão deles se torna enjoativa. Então, compra-se tudo novo apenas para renovar o visual. Eu não sou assim. É por isso que, sempre que me vejo obrigado a atualizar software e hardware, sinto como se alguém estivesse perturbando o meu sossego. A cada mudança eu ingenuamente penso: agora não vou precisar trocar mais? Desta vez vão me deixar em paz? Mas logo começa aquele martírio de não conseguir abrir arquivos “porque a versão está desatualizada”. Tem gente que gosta e até sentiria falta se um software ficasse muito tempo sem lançar uma versão nova. Já eu acho que não se deveria trocar o que está funcionando bem. Ainda mais de forma compulsória.