O não disfarçado
A forma mais comum de não indireto talvez seja a de dizer que "não dá". A expressão contém o não de qualquer forma, mas o "dá" logo a seguir ameniza a frieza da negativa. A maioria capta a mensagem e não toca mais no assunto. Mas outros, ah, outros insistem. "Por que não dá, claro que dá!" Cobram. Reiteram. Você responde que não é possível e eles contra-argumentam que você está enganado, é possível, sim. E até lhe provam isso. Você fica numa péssima situação. E você acaba tendo que dizer com todas as letras: "Não dá porque eu não quero!"
Um método sutil é dizer: "anotamos o seu telefone, qualquer coisa, ligaremos". E tem gente que, santa ingenuidade, ainda fica na expectativa, esperando o telefone tocar. Também na Internet começam a surgir evasivas semelhantes. Você acha o e-mail de alguém – uma pessoa famosa, por exemplo – manda uma mensagem e vem a resposta: "Estou saindo de viagem e devo ficar um tempo fora, na volta entrarei em contato". Pode esperar sentado.
Outra forma de não bastante usual é: "Vai ficar para outra oportunidade". Essa é a recusa padrão de uma proposta ou algo semelhante. O que o interlocutor está querendo dizer é: "não vamos colocar a idéia em prática". Pronto, entende quem quiser. Se alguém ouvir que uma sugestão "vai ficar para outra oportunidade" e ficar aguardando que a oportunidade surja, é porque não caiu a ficha.
Já os políticos têm uma forma toda especial de fugir de uma reivindicação. Na falta de argumentos mais consistentes, eles dizem que "não é hora" de falar no assunto. "Não é hora de falarmos em voto facultativo". "Não é hora de falarmos em reforma agrária". E assim eu imagino que, em algum momento da História do Brasil, alguém deve ter dito que "não é hora" de falar em abolição da escravatura, "não é hora" de falar em Proclamação da República e por aí vai. E a gente lembra do Geraldo Vandré: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
Eu gostaria de citar outros casos, mas não dá. Não é hora. Vão ficar para outra oportunidade.
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