terça-feira, abril 26, 2005

Espetáculos toscos

Hoje quando entrei no ônibus percebi que os passageiros tinham um olhar compenetrado, tenso, como se algo estivesse atraindo a atenção de todos. Depois notei que, do outro lado da rua, havia acontecido um acidente. Não sei se é porque não sou fanático por automóveis, mas se há algo que não me atrai é ficar olhando destroços de carros, ferro retorcido, lataria amassada e quetais. Não é uma questão de nobreza de espírito, necessariamente, apenas não me interessa. Há coisas bem melhores para se admirar por aí, com certeza.

Certa vez eu estava voltando da praia pela free-way quando teve início um engarrafamento. Logo imaginei que tivesse acontecido um acidente. Isso se confirmou mais adiante. Mas o que estava trancando o fluxo de carros não era nada obstruindo a pista em si e sim o interesse mórbido dos motoristas em examinar com calma os destroços no acostamento. Em vez de olhar para o carro destruído, resolvi prestar atenção no motorista da frente. Incrível, ele realmente olhava com atenção, como se saboreasse cada detalhe do que estava vendo.


Outra situação em que não vejo graça nenhuma é ver alguém cair no chão. Só se for um sujeito muito sisudo e fleumático. Aí, há um certo deleite em vê-lo tombar de sua pose. É uma questão de contexto. Mas o fato em si de alguém cair espetacularmente não me dá vontade nenhuma de rir. Mas noto que sou exceção, pois ao meu redor os espectadores mal contêm suas gargalhadas.

Tem gente que ri de qualquer idiotice, palavrão, piada de papagaio, careta. Outros adoram ver sangue, cenas de acidentes, e ficam repassando fotos grotescas pela Internet como se todos os destinatários de suas mensagens fossem ter o mesmo interesse. Ah, me poupem. Sei que pode não ser viável a curto prazo, mas acho que destroços de carros deveriam ser cobertos, como se faz com corpos de pessoas mortas em acidente. Pelo menos o trânsito fluiria melhor. Já as fotos de carnificina explícita que recebo, deleto sem olhar.