A minha rua
Ora, a fama de uma rua não deveria influir na cotação dos imóveis. Mas, convenhamos, há um certo status em morar numa rua conhecida. Além, é claro, da comodidade de não ter que ficar explicando onde fica. Quem mora, por exemplo, na Ganzo, na Getúlio Vargas ou na José de Alencar, não tem dificuldade nenhuma quando pega um táxi ou pede uma pizza por telefone. Só precisa dizer nome e número e esperar descansado. Já eu, cada vez que entro num táxi, ainda recuperando o fôlego, tentando achar a tranca do cinto para fechar, tenho que recitar o script decorado: "É na rua Augusto Melecchi, uma paralela à Praia de Belas, o senhor vai pela Praia de Belas até a sinaleira da Botafogo, depois dá o retorno, que eu mostro onde é". Mesmo assim, a maioria dos motoristas entende que tem que entrar na Botafogo. Para evitar essa confusão, quando estamos chegando perto, mostro o começo da rua Hugo Ribeiro do outro lado do canteiro e digo: "É ali que tem que entrar." Aí ninguém erra.
A Augusto Melecchi é uma rua de uma quadra só. Não é caminho para nada. Só entra nela quem precisa realmente ficar por lá. Começa na Peri Machado e termina na Hugo Ribeiro – ou o contrário, dependendo da parada do ônibus em que você descer na Praia de Belas para chegar lá. Ora, uma rua assim deveria se chamar Pery Ribeiro, em homenagem ao cantor. Tem mão dupla, mas é estreita e estacionam carros dos dois lados. Assim, nunca há espaço para tráfego simultâneo nos dois sentidos. Às vezes um carro tem que parar na esquina ou junto à calçada para esperar o outro passar. Usando uma linguagem de teleprocessamento, seria uma rua half-duplex.
Quando me mudei, não tinha a mínima idéia de quem tinha sido Augusto Melecchi. Hoje já sei: é o avô do meu dentista.
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