Crianças soltas
Mas no caso de crianças pequenas existe um fator preponderante a ser considerado, que é a segurança. Às vezes vejo pimpolhos com não mais de sete anos com uma liberdade exagerada que os coloca em situação de risco. Certa vez eu caminhava em direção ao Zaffari do Menino Deus quando vi uma cena estarrecedora. Era final de tarde e já havia escurecido. Um garoto de menos de cinco anos pedalava seu triciclo a toda velocidade pela calçada da Ganzo, em direção à movimentadíssima Múcio Teixeira. Quando chegou perto do cordão da calçada (ou "meio-fio", pra quem não é gaúcho), colocou os dois pés no chão para frear, demonstrando que sabia até onde podia ir. Até aí, tudo bem. Mas, a olho nu, não avistei nenhum adulto que estivesse olhando por aquela criança. Mesmo que houvesse, deveria estar numa distância de onde não poderia fazer muita coisa no caso de um incidente.
Ontem mesmo, no Nacional do Shopping Praia de Belas, um pai deixou seu filho de cerca de cinco anos guardando lugar na fila enquanto foi buscar mais alguma compra que tinha esquecido. Voltou logo, mas demorou tempo suficiente para deixar o menino apreensivo, procurando-o com os olhos, a ponto de chegar a sair rapidamente da fila e depois voltar. E no mesmo supermercado vi crianças brincando de empurrar carrinho sem qualquer limite, atrapalhando outros clientes. Lembro de uma noite em que fui jantar com uma turma de amigos e o casal de filhos de uma colega perguntou se podia brincar na frente da churrascaria. Foram autorizados. Manifestei surpresa e ela comentou: "Eles estão acostumados..." Ah, sim. Só há perigo para quem não está acostumado.
É verdade que as crianças que vivenciam essa liberdade prematura adquirem mais depressa senso de independência e iniciativa. Mas, durante esse processo, correm um risco desnecessário. Se não acontecer nada, ótimo. Mas vale a pena? Muitos pais de crianças desaparecidas, ou mesmo os que já tiveram o susto de perder um filho num shopping ou supermercado, teriam uma resposta inequívoca para essa pergunta.
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