quinta-feira, maio 05, 2005

O velho e o novo

Todos os fanáticos por música, após uma certa idade, começam a dizer a mesma coisa: "A música do meu tempo é que era boa. Depois de tal década não apareceu nada que prestasse." E como vejo diversos jovens que não eram nem nascidos na época curtindo o som que eu ouvia nos anos 70, ou mesmo grupos dos anos 60 que eu vim a descobrir depois, sinto a minha teoria plenamente justificada. Não é impressão: a música do meu tempo era realmente melhor. Ou não?

Lembro das discussões sobre música que eu tinha com o meu pai. Ele argumentava que a diferença entre as músicas do tempo dele e as do meu é que as da geração dele eram eternas, tinham "ficado", enquanto as de minha época eram efêmeras. Eu apresentava o contra-argumento óbvio de que só o tempo mostraria se as músicas do meu tempo "ficariam" ou não e algumas dos anos 60 até já haviam se tornado clássicas, como algumas dos Beatles, por exemplo. Além disso, quem podia garantir que todas as músicas do tempo dele eram lembradas? Muitas podem não ter resistido ao filtro do tempo.

E vejo minha teoria se confirmar. Rádios como a Antena 1 e a Continental FM tocam em suas programações sucessos dos anos 70 que eu vi surgir e hoje são atemporais. "Hotel California" dos Eagles, "Guitar Man" do Bread, "You’ve Got a Friend" com James Taylor, "Me and Mrs. Jones" com Billy Paul, tudo isso era novidade no meu tempo. Sem contar discos que eu lembro quando foram lançados e hoje são antológicos, como "Dark Side of The Moon" do Pink Floyd e o "Led Zeppelin IV". Então, meu pai, desculpe, mas eu estava certo. As músicas do "meu" tempo também ficaram.

Mas agora vamos repensar o outro aspecto do dogma. Será mesmo que não se fez mais nada de interessante na música nos últimos anos? Ou eu é que não tenho mais a mesma disposição e entusiasmo para conhecer coisas novas? Não sei não... às vezes me surpreendo. Certa vez, num grupo de discussão sobre David Bowie, um fã recomendou o Air. Fui escutar trechos do CD "Moon Safari" na Internet e me apaixonei. Outra situação bastante comum é eu estar na Saraiva olhando CDs e me interessar pela música que está tocando. Foi assim que descobri o Zero 7, no mesmo estilo do Air. E assim também, no começo da semana escutei uma baladinha bem gostosa, lembrando Tears for Fears. Quis saber quem era. Keane.

Keane... Nunca ouvi falar. Não sei nem ao certo como se pronuncia. Mas já dei uma pesquisada na Internet. É um trio inglês relativamente novo que tem lançado o CD "Hopes and Fears". Já escutei trechos no site da Amazon e adorei. Não é nada de novo, é um estilo leve de som pop sem uso de guitarras. Mas muito bom. Aliás, não é surpresa o fato de que os grupos novos que me agradam são os que apenas reciclam as fórmulas da velha e boa música do "meu tempo". Boa música não se inventa, se imita. E os melhores grupos são os que, independente de imagem ou postura, criam temas agradáveis de se ouvir. Isso é que importa.

Então acho que deve ter, sim, muita coisa boa sendo feita por aí. Eu é que não conheço. Não tenho mais aquela curiosidade investigativa que me fazia pegar um LP na mão nos anos 70 e questionar: que grupo é esse de que nunca ouvi falar? Que tipo de música será? E pedia pra escutar. Hoje já nem me sobra tempo pra isso. Mas aceito sugestões. Keane já está anotado, vou comprar o CD. O que mais vale a pena conhecer? (Hip hop não, por favor!)