Futebol sem alegria
Mesmo na minha infância, no meu período de colorado fanático, eu já observava isso. Lembro de uma ex-cunhada minha que era gremista doente. Um jogador fez uma bobagem e ela disse: "Esse cara é um idiota." Fiquei com aquela frase na lembrança por todos esses anos. Um sujeito a quem ela nem conhecia, não sabia se era honesto, correto, de bom caráter, foi chamado de "idiota" porque errou uma jogada. E assim um time inteiro, quando perde, aos olhos da torcida, vira um bando de idiotas.
Comparem com o que acontece em outros esportes. A ginasta Daiane dos Santos decepcionou na Olimpíada. Não vamos negar. Mas nem por isso foi hostilizada. Pelo contrário, a postura da torcida era contemporizadora, tudo bem, valeu o esforço, melhor sorte na próxima vez. E com isso ela teve tranqüilidade para se recuperar e buscar novas vitórias. Tanto quanto eu veja, o mesmo ocorre com o tenista Guga e outros esportistas brasileiros que se destacam em suas modalidades. Não são obrigados a vencer. Mas têm o apoio sincero e carinhoso da torcida.
O principal argumento do goleiro gremista para se afastar foi a zombaria enfrentada na escola por seu filho de sete anos. Pode haver crueldade maior? Seu pai talvez não esteja correspondendo ao que a torcida esperaria, mas é um profissional honesto, de mérito, correto, competente, ou não estaria lá, titular da posição, ganhando sei lá quantas vezes mais do que eu e você juntos. Mas a torcida não perdoa. E essa gana doentia passa de pai para filho e vai desembocar num inocente que com certeza não tem condições sequer de entender o que está acontecendo. Por que seu pai, que aos olhos do filho é uma pessoa boa, é tão mal falado na escola?
Eu não tenho dúvidas: não há mais alegria no futebol. O que existe é uma cobrança perversa de que os jogadores nos dêem vitórias para compensar nossas frustrações e justificar seus salários. Em meio à crise, a torcida gremista teria a chance de se mostrar incentivadora do clube nos bons e nos maus momentos. Mas nem isso está sabendo fazer. E assim, o goleiro Eduardo se retira solenemente, para salvaguardar sua família de uma hostilidade que o dinheiro já não consegue amenizar.
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