quinta-feira, agosto 25, 2022

Relembrando Olivia Newton-John

Em 1975, aos 14 anos, comprei minha primeira revista americana, embora meu inglês fosse ainda bem básico. Chamava-se Spec e era uma publicação essencialmente teen. Meu interesse era por uma matéria de duas páginas sobre David Bowie mostrando suas diversas imagens ao longo dos anos. Muitas outras facetas viriam depois. Mas claro que folheei a edição toda. Chamou-me a atenção a pequena foto mostrando apenas o rosto de uma cantora linda, uma beleza acima da média. Seu nome era Olivia Newton-John. Fiquei intrigado. Será uma boa intérprete? Que tipo de música gravaria?
Tive a resposta em 1977, quando encontrei uma coletânea de Olivia à venda na saudosa Star Discos, na Galeria Malcon, em Porto Alegre. Seu título era Greatest Hits. Só anos mais tarde vim a saber tratar-se de uma compilação feita especialmente para o Brasil, usando a capa original do álbum Come On Over, lançado somente nos Estados Unidos. Ouvi o disco na loja e decidi comprá-lo. O repertório incluía baladas e canções pop realçadas por uma voz bonita e suave. Era bem o que eu imaginava dessa bela cantora.  
Infelizmente, o disco tinha chiado na faixa "The Long and Winding Road". Consegui demonstrar para o vendedor que o LP estava defeituoso, mas ele não tinha outro idêntico para substituição. Acabei trocando pelo A Kind of Hush, dos Carpenters. Mas, já prevendo isso, eu tinha gravado a coletânea de Olivia em casa. E no breve período (um dia?) em que o LP esteve comigo, lembro de tê-lo mostrado pelo menos para um amigo, que falou para outro amigo, que falou para outro amigo. Depois, conversei com um deles por telefone e ele falou: "Todo o mundo já me falou do teu LP da Olivia Newton-John!" Tive que dar a ele a triste notícia de que eu não estava mais com o disco, mas havia gravado uma fita como prêmio de consolação. 

Um desses meus amigos, justamente o que mais tinha gostado do LP, viajou para os Estados Unidos no começo de 1978. Na volta, trouxe alguns discos de Olivia que não tinham saído no Brasil. Apenas a citada coletânea e o álbum original Long Live Love haviam sido lançados por aqui. Fora isso, as rádios brasileiras estavam tocando "Sam". E, no Fantástico de 20 de novembro de 1977, ela apareceu cantando um de seus maiores sucessos no exterior, "I Love You, I Honestly Love You". Não era suficiente para fazer de Olivia uma cantora conhecida por estas plagas. Mas a minha turma era fã dela, graças à minha divulgação. E os discos que nosso amigo comprou na terra do Tio Sam nos proporcionaram uma amostra mais ampla da obra da artista. 

Até que, no segundo semestre de 1978, estreou o filme "Grease" nos cinemas brasileiros. Pronto: agora todo o mundo era fã de Olivia Newton-John desde pequenininho! A própria Olivia mudou de estilo, adotando uma imagem mais arrojada e gravando canções com mais pique, em nada lembrando suas origens de intérprete country. Claro que eu e meus amigos ficamos felizes de ver nossa musa finalmente conquistando o público brasileiro. Mas, aparentemente, foram poucos os que decidiram investigar sua discografia completa. Até porque a maioria dos discos permanecia inédita no Brasil. 

Olivia vivia em luta contra o câncer de mama e veio a falecer no dia 8 deste mês. Aí, claro, choveram homenagens a ela nas redes sociais. Mas não vi um só fã brasileiro postar qualquer música que tivesse sido gravada antes de "Grease". É como se a carreira dela tivesse começado em 1978. E ela já tinha contabilizado nove álbuns quando participou do filme! Hoje estão todos nas plataformas digitais. Oito deles aparecem na imagem acima. Vale a pena conhecê-los. Na dúvida, comece por "Don't Stop Believin'", de 1976, que é também o título da autobiografia que a cantora publicou em 2017. Já comecei a ouvir o audiobook, narrado por ela própria.