Música alegre brasileira
Canceriana Telúrica (1981) e Cósmica (1982) flertam com vertentes mais pop, mas sem descaracterizar as raízes de Baby. O primeiro abre com "Curumim chama Cunhatã que eu vou contar", de Jorge Ben, mais conhecida pelo refrão "todo o dia era dia de índio". "Telúrica" foi o sucesso radiofônico seguinte, deixando muitos fãs intrigados sobre o significado da palavra. (Uma nota pessoal: quando eu e meus colegas de trabalho consultamos o termo no dicionário e vimos que não tinha qualquer conotação inadequada, decidimos que éramos telúricos desde pequenininhos. E ainda nos divertíamos perguntando a amigos e clientes mais chegados se também eram ou não.) A ideia do adjetivo foi reutilizada no próximo disco, em que Baby se declarava "Cósmica" na faixa-título. E o arranjo de "Seus Olhos", composição de Baby e Jorginho Gomes, surpreende pelos acordes pesados das guitarras de Pepeu, chegando quase a lembrar o prog metal do Rush.
Das seis cantoras, apenas uma era profissional: a "Nega Dudu", hoje conhecida como Dhu Moraes. As outras tinham vozes de possibilidades variadas, mas tudo era equilibrado na mixagem. Eram elas: Sandra Pêra (irmã de Marília Pêra), Regina Chaves, Leiloca, Lidoka e a "Nega Didi" (Edyr de Castro). Além de "Perigosa", o primeiro álbum teve como hit uma versão dançante de "A Felicidade Bate à Sua Porta", de Gonzaguinha, e "Tudo bem, tudo bom???? Ou mesmo até" ("prazer em conhecer, somos as tais Frenéticas..."). O LP estourou e, quando as Frenéticas lotaram o Gigantinho, em Porto Alegre, houve quem comparasse a popularidade delas à dos Secos e Molhados em 1973/74.
Duas novelas ajudaram a impulsionar o segundo trabalho das Frenéticas, Caia na Gandaia, de 1978: "Dancin' Days" e "Feijão Maravilha", que tiveram temas de abertura do sexteto, a primeira com a música homônima e a segunda com "O preto que satisfaz", de Gonzaguinha. Também "Lesma lerda" chamou a atenção pela sonoridade do título, num tempo em que palavrões eram proibidos na música, no rádio e na TV. Soltas na Vida, de 1979, manteve o deboche e a qualidade com "Ai se eles me pegam agora" de Chico Buarque, "Agito e uso" de Ângela Ro Ro, "Sonho molhado" de Gilberto Gil, "Perigosíssima" de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Nélson Motta e a impagável "É que nesta encarnação eu nasci manga", de Luhli e Lucina ("se você quer me comer, eu dou, eu dou... um pedacinho pra você!"). Mas o sucesso já não foi o mesmo.
Babando Lamartine, de 1980, foi um projeto especial com composições de Lamartine Babo e arranjos de César Camargo Mariano. O chargista Lan, que criava as capas dos discos de Lamartine, foi responsável pelos desenhos da fachada e da contracapa. Mas, embora o disco tenha seus defensores, a opinião geral é de que Mariano – um excelente músico e arranjador, é bom que se diga – descaracterizou a sonoridade dos clássicos do compositor carioca, em especial o andamento mais lento em "O teu cabelo não nega". O próprio Lan manifestou sua decepção quando foi entrevistado por jornalistas de Zero Hora, na época.
A caixa não inclui o quinto e último LP das Frenéticas, Diabo a 4, que saiu em 1983 por outra gravadora, a Top Tape. O título era uma alusão ao fato de que elas eram agora um quarteto, com a saída de Sandra e Regina. Em compensação, as faixas-bônus trazem as três gravações que o time completo realizou em 1993, entre elas o tema da novela "Perigosas Peruas".
As Frenéticas podem ter iniciado como um lance de marketing, mas o importante é que deu tudo certo comercial, artística e musicalmente. Elas veicularam um som discotheque bem brasileiro. Deixam saudade. Lidoka faleceu no ano passado.
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