sábado, dezembro 05, 2015

O dia em que conheci Marília Pêra

Minha viagem ao Rio com meu irmão mais velho Júlio César, aos 10 anos, foi um dos fatos marcantes de minha infância. Ou mesmo de minha vida. Foi a primeira vez que andei de avião e saí do Rio Grande do Sul. Colorado ainda fanático (hoje nem um pouco), tive o prazer de ver meu time jogar no Maracanã contra o Botafogo, no dia 23 de outubro de 1971, um sábado. Viajei no mesmo avião dos jogadores, pela saudosa companhia aérea Sadia (depois incorporada pela Transbrasil), e fiquei no mesmo hotel deles. Depois da partida, que terminou zero a zero, pegamos carona de volta ao hotel no ônibus do time. Comprei um livro de autógrafos especialmente para essa viagem e peguei assinatura de todos os meus ídolos colorados.

Mas não só deles.

Já contei aqui sobre meu rápido encontro com Chico Anysio na chegada, no Aeroporto do Galeão. Mas houve outro acontecimento memorável nessa viagem. Meu irmão estava indo ao Rio para acertar os detalhes de uma chamada que seria gravada para a TV Gaúcha (hoje RBS TV) anunciando uma nova novela. Naquele tempo, é bom frisar, as novelas iam ao ar em Porto Alegre com meses de atraso em relação ao Rio. Vai daí que "Bandeira 2", de Dias Gomes, já tinha estreado na Cidade Maravilhosa enquanto os telespectadores da capital gaúcha não sabiam de nada.

No caso, o vídeo seria com uma atriz de quem eu já tinha ouvido falar, mas não estava certo de lembrar da fisionomia. Marília Pêra? Imediatamente me vinha à memória uma foto de um pôster que era distribuído como brinde por um álbum de figurinhas. Recordava também de uma música que estava tocando bastante no rádio e dizia: "Marília Pêra é a minha paixão". Enfim, eu, meu irmão e um colega dele, Gianoni, chegamos aos estúdios da Globo. Quando finalmente começaram a falar com uma moça, eu fiquei em dúvida: seria mesmo ela? Era muito mais bonita do que na foto que eu lembrava. Mas era, sim. No final, meu irmão me disse: "Pega rápido então o autógrafo dela." Como de praxe, ela perguntou meu nome e escreveu o que segue:
Aí eu disse "obrigado" e ela deu uma risadinha. Fiquei intrigado. Um menino gordinho de Porto Alegre agradecendo por ter ganho o autógrafo de uma atriz famosa... qual era a graça? Mas ela riu. Mal comparando, como eu já havia contado, Chico Anysio respondeu "disponha", com aquela sua inconfundível voz metálica. Casualmente, foi nessa época que o jornalista e compositor Nélson Motta conheceu Marília Pêra e se apaixonou por ela. A moça estava realmente em ótima fase. Esse encontro deve ter sido no dia 23 (sábado, a mesma data do jogo).
Antes de irmos embora, assistimos a um ensaio de uma cena da novela. O cenário era este aí da foto. Segundo informação que encontrei na pesquisa, Garrincha deu umas dicas a Osmar Prado, que fazia o papel do jogador Mingo. (No final do ano, Garrincha seria contratado para jogar em 1972 pelo Olaria, o time de Mingo na novela.) No ensaio que vimos, Osmar contracenava com Paulo Gonçalves, no papel de seu pai e ex-jogador Neneco. O pai tentava incentivar o filho a se esforçar para ser um craque como Ademir Menezes, do Vasco. E gesticulava para a foto na parede. "Olha aí! Eu e o Ademir!" Depois do desfecho de um diálogo tenso, em que Mingo sai de cena com sua bicicleta, Neneco olha para a foto e diz: "Ademir Menezes..." O diretor contou: um, dois, três, quatro, cinco. E o ator repetiu: "Ademir..." Se já tenho (ou pelo menos tinha) boa memória ao natural, imaginem com essa encenação sendo repetida várias vezes na minha frente, como aconteceu. Pena que acabei não vendo a cena quando foi ao ar.

Depois disso, é claro que aprendi de uma vez por todas quem era Marília Pêra, Além de atriz, era também ótima cantora. Envelheceu com dignidade, sempre bonita e carismática. Faleceu hoje, aos 72 anos, de câncer.

Esta era a música que tocava no rádio e citava Marília Pêra em 1971 (e não 1972, como informado no vídeo):

1 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Bah! Quanta coisa!

2:42 PM  

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