domingo, maio 02, 2010

Antes do Gre-Nal

Na minha fase de colorado fanático, na infância e adolescência, eu devia ter um anjo da guarda que também gostava de futebol. Fui poupado de traumas e tristezas, pois tudo aconteceu exatamente como eu queria. Eu lembro, por exemplo, que desejava ardorosamente que o Internacional fosse octacampeão gaúcho. Se o Grêmio tinha sido hepta, o Inter tinha que ser octa. Quando, em certo campeonato gaúcho, a dupla Gre-Nal abandonou o certame em protesto contra a Federação Gaúcha de Futebol, o primeiro pensamento que me veio foi: "Oh, não, então o Colorado não vai mais ser octa!" Felizmente foi só um blefe. E o Inter, claro, sagrou-se octacampeão em 1976. Como eu queria.

Meu pai tinha um amigo que morava próximo ao Estádio Olímpico, com visão de uns 80% do gramado de sua sacada. E era gremista. Imagine ter uma "sacada cativa" para assistir de graça aos jogos do seu time. Isso terminou quando o Tricolor da Azenha remendou seu estádio e o apresentou como "novo" em 1980. A cobertura refeita acabou com o futebol grátis de que muitos desfrutavam nos aclives em torno do Olímpico.

Pois bem: foi dessa sacada que assisti ao Gre-Nal mais marcante de minha vida, em 20 de setembro de 1970. O primeiro tempo terminou um a zero para o Grêmio, gol de Loivo. No intervalo, eu só dizia, bem ao jeito da criança de nove anos que eu era: "Vai dar dois a um!" Os adultos com certeza ouviam com uma pontinha de pena pela minha inocência. Pobre garoto! É tão ingênuo e apaixonado pelo time que acredita em milagre.

No segundo tempo, acho que meu anjo da guarda entrou em campo. Foi marcada uma falta discutível contra o Grêmio no meio de campo. Ao menos, o narrador Pedro Carneiro Pereira, da Rádio Guaíba, disse que não houve nada. Apesar da longa distância, o lendário Valdomiro deu o chute que era sua marca registrada e a bola foi parar na rede. Um a um. Passado algum tempo, a virada acabou acontecendo dos pés do lateral direito Édson Madureira. A torcida gremista culpou o goleiro Breno por uma suposta falha. Dois a um. Foi o placar final, bem como eu dissera no intervalo. Naquele ano o Inter seria bicampeão gaúcho.

Quando eu me desinteressei de futebol, meu anjo da guarda foi cuidar de coisas mais importantes, como garantir que eu chegasse em casa são e salvo nas noites de bebedeira aos 20 e poucos anos e me ajudar a cuidar do meu filho a partir dos 33. Hoje eu já não fico na fossa nem me estresso por causa do Inter. Raramente acompanho os jogos, a menos que sejam decisões importantes. E até essas eu deixo de assistir de vez em quando, dependendo dos compromissos.


Mas uma característica eu não perdi: ainda acho que o torcedor tem o direito de acreditar em milagre. Que graça terá o futebol se não pudermos torcer por viradas relâmpago, escores impossíveis, goleadas esmagadoras? Lembram quando o Grêmio precisava vencer por uma diferença de quatro gols, na Libertadores de 2007? Ninguém acreditava, só os gremistas. Pois chegou na hora... o Grêmio não conseguiu. E aí todos voltaram à realidade. Mas antes, por que não torcer? Depois a gente se conforma.

Por isso os colorados podem e devem torcer por uma vitória com uma diferença de três gols contra o Grêmio. Dá-lhe Inter!

Leia também:

Esperança gremista
Os 75 segundos

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Desta vez, não deu, né?
Abração
Lasek

2:50 PM  

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