Atravessando ruas
Existem pessoas que atravessam a rua por etapas. Primeiro uma faixa, depois outra e mais outra. Provavelmente presumem que, se ficarem bem no meio, os carros não lhes atingirão. Como se os veículos andassem sempre alinhados e nunca trocassem de pista. O caso mais extremo que vivenciei foi no Eixo Monumental de Brasília, que tem nada menos do que seis faixas. Eu estava com três colegas que decidiram atravessá-lo fora da faixa de segurança, sem sinaleira. E fizeram exatamente como descrevi antes, aos poucos. Decidi ficar sempre ao lado de um deles. Se ele conseguisse chegar ao outro lado ileso, eu também sobreviveria. Mas nunca mais cometi essa irresponsabilidade.
Talvez seja trauma de infância. Aos três anos eu fui atropelado no colo da empregada. Não lembro do fato em si, somente a minha estada no hospital, depois. Mas o fato deve ter ficado registrado no meu subconsciente. Aqui em Porto Alegre, faz pouco tempo que foi instituído um "novo sinal de trânsito", como diz a campanha. Se o pedestre estender a mão numa faixa de segurança onde não haja sinaleira, o motorista tem que parar. Aplaudo a medida, mas ainda não a testei. Prefiro continuar tomando meus próprios cuidados. Mas, estando eu na direção, já parei para um pedestre. E noto que os motoristas ficaram mais cordiais, tomando eles mesmos a iniciativa de dar passagem.
Agora há pouco, às 18 e 10, eu e o Iuri estávamos cruzando a Praia de Belas, na esquina com a Ganzo. O primeiro lado foi fácil, pois a rua estava vazia. Quando chegamos no canteiro, a sinaleira no sentido bairro-centro fechou para os automóveis. Mesmo assim, resolvi esperar. Eu tenho o hábito de nunca atravessar a rua tão logo o sinal abra para mim se houver carros se aproximando. Espero que parem primeiro. Pois vinha um único carro a uma velocidade ameaçadora. Para piorar a situação, estava chovendo, com a pista molhada. Não deu outra: o apressado motorista deu uma freada brusca e passou derrapando sobre a faixa de segurança. Depois ainda engatou uma ré para voltar à posição correta. Só então atravessamos.
Podem debochar à vontade: eu vou continuar me precavendo. Num país que dá carteira de motorista para pessoas imprudentes, todo o cuidado é pouco.
1 Comments:
Não é nada disso, Emílio: baixinho sempre corre prá tomar impulso na subida do cordão da calçada, he,he!
Um grande abraço.
Bonow
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