Novos tempos
Por outro lado, agora vejo que eu próprio não havia atentado para um dado importantíssimo: os tempos mudaram. Já se foi a época em que a proibição era vista como algo normal. Naqueles tempos, minha mãe freqüentemente dizia uma frase que eu muitas vezes me peguei repetindo: "Isto devia ser proibido!" Ou então se questionava: "Como a censura deixou passar isso?" Em anos de repressão, o que causava estranheza era o que vinha à tona, não o que era barrado. Certa revista publicou uma notícia embaraçosa envolvendo familiar de autoridade no exterior e naquela semana, no estado da pessoa em questão, só os assinantes a receberam. Nas bancas, o exemplar sumiu. O poder informal e a influência conseguiam abafar qualquer informação incômoda. E a Internet ainda estava longe de existir.
Pois o que chama a atenção, em pleno Século XXI, é que a atitude de Roberto Carlos desagradou aos próprios fãs. Na época anterior citada, ele teria tido apoio incondicional da unanimidade de seus admiradores. "Se o Rei não gostou, nós também não gostamos", teria sido a postura. Hoje, não. Em 2007 as pessoas tratam de se informar primeiro antes de tomar uma posição. E pensam por suas próprias cabeças. Como o livro ficou cinco meses à venda, foi tempo mais do que suficiente para que todos o lessem e formassem uma opinião. E a resposta dos fãs foi de desaprovação às medidas tomadas por seu ídolo. Como se não bastasse, o recolhimento do livro atiçou ainda mais a curiosidade de quem não o leu. O resultado é que cópias do texto circulam furiosamente pela rede. Ou seja: não adiantou nada o processo. Quem quiser, vai ler a obra. E com interesse redobrado pela polêmica.
Enquanto as cópias de "Roberto Carlos em Detalhes" se encaminham para a fogueira, a chamada de capa de Zero Hora é uma frase do Papa Bento XVI, em visita ao Brasil: "Façam da castidade um baluarte." Sem dúvida, tem mais gente que precisa se atualizar.
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