Rio de Janeiro
Voltei algumas vezes ao Rio. Quando lembro aquelas praias lindas que são Copacabana, Ipanema e Leblon, não consigo pensar em violência, assaltos e balas perdidas. O que fizeram com a cidade mais linda do mundo? Sempre que ouço bossa nova, sou transportado a um Rio de Janeiro que não conheci, mas parece que estou lá, naqueles bares, naquela boemia toda.
Em 1990, fiquei duas semanas no Rio fazendo um curso. E aí tive uma amostra do "perigo oculto" que a cidade representa para quem é de fora. Eu e um colega viemos de ônibus do centro para o Hotel Trocadero, em Copacabana. No caminho, tenho uma vaga lembrança de ter escutado alguém pedir que a porta de trás fosse aberta. Era a de entrada, mas alguém saiu por ali. No outro dia, meu colega me perguntou: "Viste que aquele nosso ônibus foi assaltado?" Não percebemos nada. Foi outro colega quem contou depois. Aconteceu da roleta (catraca, pra quem não é gaúcho) para trás. Depois o ladrão saiu tranqüilamente pela porta de trás. E o motorista abriu, claro. Foi bem no Aterro do Flamengo.
Eis a questão: lá o critério "visual" de lugar seguro não é o mesmo de outras cidades. Aqui em Porto Alegre, numa rua mais ou menos movimentada, é só cuidar bolsas e carteiras que está tudo bem. Lá, não. Lá o assalto pode acontecer em qualquer lugar e é um assunto muito particular entre assaltante e assaltado. Ninguém interfere.
Vai fazer dez anos que estive no Rio pela última vez. Foi em 1997, para ver o show de David Bowie. Às vezes sonho com o Rio. Talvez não com o Rio de verdade. O Rio dos meus sonhos é pacífico e musical. O Rio bossa nova. O Rio poético, tranqüilo, de longas caminhadas nos calçadões à beira-mar. Não troco Porto Alegre por nenhuma cidade do Brasil, nem ousaria reivindicar para mim o orgulho que os cariocas, com toda a razão, ainda têm pelo seu berço. Ainda assim, repito: o que fizeram com a cidade mais linda do mundo?
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