Perda lamentável
Não sei se era a faixa etária um pouco acima da média (como eu) ou o fato de que seus amigos de começo de curso já estavam todos formados, mas Ricardo Carle se mostrava quieto e reservado. Falava menos do que escrevia. Quando fomos colegas, ele trabalhava na Zero Hora. Acumulava as editorias de literatura e vídeo. Um dia chegou atrasado e disse que teve que fazer uma matéria às pressas, porque havia falecido o Isaac Asimov. Eu brinquei com ele, disse que pensei que estivesse escrevendo o obituário do cantor Antônio Marcos, "Não, o Tiaraju [Brockstedt] escreveu". Chegamos a fazer um trabalho juntos. Certa vez, dei carona para ele e aproveitei para perguntar sobre alguns ex-colegas do Colégio Pio XII que haviam entrado para o jornalismo na mesma época que ele. Conhecia todos.
Qualquer morte prematura é lamentável. Mas, no caso de um sujeito brilhante como Ricardo Carle, perde-se também uma obra em potencial que ele haveria de construir. E quando a causa mortis é atropelamento, fica mais difícil aceitar a hipótese de predestinação, de passagem com data marcada. É como um filme que rebenta antes do final. Parece ainda mais injusto.
Nem sempre criamos laços de amizade com as pessoas que conhecemos. Mas mesmo os que não se tornam amigos podem conquistar nossa admiração. Foi o caso de Ricardo Carle. Uma perda irreparável para o jornalismo.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home