sábado, setembro 02, 2006

O jornal de sábado

Desde sexta-feira não se fala em outra coisa aqui em Porto Alegre que não sobre a quadrilha que estava escavando um túnel para arrombar dois bancos e foi presa pela Polícia Federal. Seria uma operação semelhante à realizada em Fortaleza em agosto do ano passado. Numa investigação de cinema, a PF localizou os bandidos em Porto Alegre, descobriu o prédio que haviam comprado para realizar o roubo, mas adiou a ação ao máximo para conseguir pegar o maior número de pessoas. A intenção era prender os criminosos antes que recebessem armas. Ao constatar que o túnel se aproximava perigosamente do Banrisul, os policiais decidiram não esperar mais.

Só acho que a Polícia deveria ter antecipado essa ação para quinta-feira ou deixado para o fim-de-semana. Fazendo na sexta-feira, a notícia saiu no jornal de sábado. E o jornal de sábado fica pouquíssimo tempo nas bancas. Só quem lê o jornal de sábado é quem tem assinatura ou quem levanta cedo para comprá-lo. Quem vai querer levantar cedo num sábado? Logo chega o jornal de domingo e aí o de sábado vira jornal velho na própria data da capa. Ninguém se interessa mais por ele. O pobre jornal de sábado tem só algumas horas de notoriedade.

Pensando bem, isso é bobagem. Não só as bancas deveriam ter jornal de sábado para vender durante o dia todo, como as pessoas deveriam ter o cuidado de nunca ler o jornal de domingo sem passar pelo de sábado. O problema é que o jornal de domingo fica pronto antecipadamente e chega às bancas um dia antes. Aí, vigora o culto do "último", ou seja, a mania que as pessoas têm de achar que "o último" sempre é melhor. Todos só querem "o último" disco do Chico, "o último" livro do Luis Fernando Verissimo, "o último" filme do Steven Spielberg e "o último" jornal. Quando chega o jornal de domingo, o de sábado passa a ser o penúltimo. Quem quer ler o penúltimo jornal?

É como se os fatos de sexta-feira fossem sempre de interesse passageiro. Nunca pode acontecer nada muito importante numa sexta-feira, pois vai ser noticiado no renegado jornal de sábado. Pessoas importantes não podem morrer numa sexta-feira. Se não me engano um grande músico gaúcho faleceu numa sexta e eu só fiquei sabendo meses depois. Acordei tarde e perdi o jornal de sábado.

Na minha adolescência eu comprava a Zero Hora de sábado toda a semana para ler a página do Juarez Fonseca. Faz décadas que o Juarez saiu da ZH, mas o meu carinho pelo jornal de sábado continua. Então me revolto com esse desdém tanto das bancas de revista quanto dos próprios leitores com um jornal que é preparado com tanto esmero para um dia da semana muito especial. O jornal de sábado recebe uma atenção superficial e logo todos só querem o de domingo, com seus fartos encartes.

Protesto! Direitos iguais para o jornal de sábado!