Mauro Kwitko

Tempos depois, já formado em Medicina, Mauro foi para o Rio de Janeiro fazer residência em Pediatria. Nessa época, foi apresentado ao cantor Ney Matogrosso por um colega do Hkspoital, seu amigo. Ney sempre deu chance a novos compositores, mas ouviu algumas músicas de Mauro e achou que não eram o seu estilo. O gaúcho não se intimidou. Voltou para o hotel e compôs uma música especialmente para Ney gravar. Depois, retornou para mostrá-la. Começou a cantar:
- Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher...
Imediatamente Ney saltou e falou:
- Pára, pára...
Foi correndo buscar o gravador e disse:
- Grava, grava...
Ney ouviu até o fim, entusiasmado, e disse que gravaria a música. Mas como se chamava? Mauro sugeriu:
- Já que eu fiz a música pra ti, pode colocar o nome que quiser.
Ney escolheu "Mal Necessário". Mauro aprovou. A faixa entrou no LP "Feitiço", de 1978, e tornou-se um clássico do repertório de Ney Matogrosso, sendo até hoje uma das preferidas dos fãs. O que pouca gente sabe é que o próprio Mauro Kwitko lançou sua versão em compacto. Em dezembro de 1979, o compositor participou do Festival da Tupi com "Até o Infinito", parceria com Carmen Seixas. Não se classificou para a final, mas a música saiu pela WEA com "Mal Necessário" no outro lado (erradamente impressa "Mau Necessário"). O produtor foi o lendário Liminha.

- Mauro, o Ney vai gravar a nossa música!
- Que música?
- Aquela do engarrafamento!
E assim, em 1982, saiu "Jeito de Amar", mais um sucesso de Ney Matogrosso com a assinatura de Mauro Kwitko.


- Essa não é a música dos Abelhudos?
Ele se referia a "Dono da Terra", com a qual o grupo infantil concorreu no Festival dos Festivais no mesmo ano. Não só ele achou as melodias parecidas, como deve ter-se confundido com o primeiro verso da composição de Mauro: "De quem é a terra, de quem pisa nela ou quem lhe ignora." De qualquer forma o LP gaúcho saiu antes do festival. Semelhanças acontecem, mas é preciso frisar que "Ikemlikidoa" foi lançada primeiro. Os Abelhudos eram compostos por filhos e sobrinhos de um produtor da EMI, da qual Mauro foi contratado, e ao sair, deixou lá uma fita com dezenas de músicas e letras. Coincidência?
Conversei com Mauro em 1992 para um trabalho da Faculdade de Jornalismo. Ele me disse que iria lançar um disco independente e inclusive mostrou a partitura de uma das músicas, "Uma Angústia Qualquer" (como se eu soubesse ler música...). Em vez de disco, acabou saindo uma fita em 1996, chamada "Canto Para Uma Nova Era". Mas antes disso, ainda em 92, Mauro viria a vencer a Califórnia da Canção Nativa na Linha Livre com "Barra do Dia". Depois, ao apresentá-la num show em Porto Alegre, ele confessou que não a havia composto como música nativista, mas colocou um arranjo típico para inscrevê-la no festival.
Em 1998, Mauro lançou o CD "Invisible Friends", incluindo várias parcerias psicografadas. É interessante observar que, em uma das letras em inglês, aparece a expressão "light beans", que Mauro traduziu como "grãos de luz". O que o espírito transmitiu com certeza foi "light beams" (fachos de luz). Um pequeno "ruído na comunicação" que confere autenticidade à psicografia.
Atualmente, Mauro Kwitko está mais dedicado ao Espiritismo e à Terapia Reencarnacionista, como se vê em seu site. Mas seria interessante que tanto a fita de 96 quanto as gravações (inéditas ou não) feitas antes fossem resgatadas para lançamento em CD.
(Obrigado a Mauro Kwitko pela revisão e correções.)