Radicalismo
Feita essa ressalva, quero dizer que, por mais respeito que eu tenha pelos animais, achei de um extremismo descabido a atitude da autoproclamada “Frente de Libertação Animal” de serrar os cadeados das jaulas do minizôo da Redenção e soltar dez macacos-prego. Até acredito que os responsáveis pelo ato estejam imbuídos de um idealismo legítimo. Mas, em seu radicalismo infantil, não percebem a irresponsabilidade que cometeram. Os pobres bichos ficaram perdidos, sem rumo, nas árvores do parque. Acostumados a uma vida confortável em cativeiro, logo morreriam sem os cuidados e a alimentação necessária. Sem contar os riscos a que poderiam se expor. Por sorte, quase todos foram recapturados.
Ironicamente, o minizôo recebeu o nome de Palmira Gobbi Dias, em homenagem a uma ativista em defesa dos animais falecida em 1979. Dona Palmira fez de sua casa, no Menino Deus, uma vivenda para animais abandonados ou que não pudessem mais ficar com seus donos. Alguns a consideravam uma pessoa excêntrica e divertida (os Discocuecas a satirizavam no “Sala de Gozação” da Rádio Continental, chamando-a de “Dona Palmeira” ao som da música de Ivan Lins), mas seu trabalho surtia efeito. Era um esforço bem mais consciente do que o dos vândalos que depredaram a Redenção.
Um amigo meu certa vez brigou com a mãe dele porque ela matou um casal de aranhas que ele via fazer amor todas as noites. Meu idealismo romântico não chega a esse ponto. Sou contra maltratar animais, mas não tenho escrúpulos ao exterminar insetos (ou aracnídeos) ou comer um bom churrasco. O filme “A História de Elza” mostra bem o dilema de tentar reintegrar uma leoa ao seu habitat de liberdade. O fato é que certos radicalismos me parecem inúteis e impensados e essa libertação forçada dos macacos é um deles. Lembro daquela piada que diz que “xiita é a maacaca do Taarzan”. Talvez isso explique a atitude xiita de soltar os “maacacos” na marra.
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