quinta-feira, setembro 29, 2005

A única esperança é o Fantástico

É impressionante o poder de comunicação do Fantástico. É talvez o programa de TV que atinge todas as classes em proporções mais aproximadas. Existe o público da novela, o público do telejornal, o público dos filmes e o público dos programas de auditório, mas o Fantástico engloba todos esses. O que o Fantástico mostra no domingo à noite, o Brasil comenta na segunda de manhã.

Mesmo quem já era nascido quando o programa estreou em 1973 tem dificuldade de lembrar o que a Globo mostrava antes no mesmo horário. Era o “Só o Amor Constrói”, documentário focalizando a vida de um artista famoso. O que mais me marcou foi Nelson Gonçalves, que contou tudo sobre o seu drama com a cocaína. Mas não causava o mesmo impacto. Os verdadeiros antecessores do Fantástico no encerramento oficial do domingo brasileiro foram o Programa Flávio Cavalcanti e, quando esse perdeu força e finalmente saiu do ar (antes da volta nos anos 80 com o “Boa Noite Brasil”), o Programa Sílvio Santos. Mas, depois de 1973, ficou difícil imaginar uma noite de domingo sem Fantástico.

Há quem não goste do programa. Eu particularmente acho interessante a idéia da revista eletrônica. É verdade que o Fantástico teve altos e baixos. Nos anos 90, por exemplo, houve uma época em que, talvez ameaçado por seus concorrentes mais cruentos, o autoproclamado “Show da Vida” começou a mostrar cenas de acidentes e assassinatos em horário nobre para toda a família assistir. Felizmente, passou. Hoje não o vejo com a mesma assiduidade, mas mais por ter perdido o hábito de ligar a televisão. Mas não esqueço os clips e números musicais que vi no Fantástico. Aliás, na fase em que o programa mostrava mais música, era a melhor divulgação que um disco podia ter depois das novelas. Se alguém inesperadamente me questionasse sobre algum grupo, cantor ou estilo musical, como fizeram uma vez com canto gregoriano, na hora eu perguntava: deu no Fantástico? Batata.

Pois bem: fãs do verdadeiro Luis Fernando Verissimo, torçam comigo. Mandei ontem um e-mail para o Editor-Chefe do Fantástico sugerindo uma matéria sobre os textos indevidamente atribuídos ao escritor. Sei que as chances são pequenas, mas não custa tentar. O fato é que não vejo outra forma de tentar esclarecer ao público em geral que esse Verissimo romântico e messiânico cultuado na Internet é totalmente falso. O Fantástico é o único canal com abrangência e penetração para dar uma sacudida eficaz nos internautas desinformados. E teimosos, também. Ontem uma moça postou o texto “Dar ou Não Dar” em uma comunidade do Verissimo no Orkut e disse que o havia citado em sua monografia sobre o comportamento feminino. Enviei-lhe uma mensagem esclarecendo que a autoria não era do Verissimo. Vejam o que ela respondeu:

“Oi Emílio! É dele sim! Pesquisei antes de colocar na minha monografia de pós-graduação. Achei em um site sobre o Luís Fernando Veríssimo, mas esqueci o endereço. Se achar, mando p/ vc! Beijos!!!”

É incrível a dificuldade que algumas pessoas têm de entender que o fato de se encontrarem textos com a assinatura de Verissimo na Internet não valida a autoria. Ainda mais se for em blogs ou sites independentes. Repliquei que só havia dois sites confiáveis para consultar textos do escritor (na verdade pode haver mais, mas é melhor não abrir muito o leque), forneci o endereço e desafiei a pós-graduada a achar o livro em que o texto se encontrava. Mas já alertei: “Vai morrer procurando.” Ela não respondeu e excluiu minhas mensagens de seu mural.

A desinformação ainda se entende, mas a insistência no erro é algo fora do comum. Os desavisados fazem uma busca no Google, encontram várias ocorrências e acham que, com isso, está confirmada a autoria. Pior: alguns são capazes de jurar que viram tal crônica em um livro de Luis Fernando Verissimo. O próprio já desmentiu os textos apócrifos, alguns sites na Internet bravamente tentam investigar e divulgar os verdadeiros autores e já saíram reportagens sobre o assunto em revistas de grande circulação. Não adiantou.

O que resta? O Fantástico. É o último cartucho. Se domingo à noite a Globo escancarar para o Brasil inteiro uma lista de textos falsos (que não precisam ser lidos na íntegra, obviamente), com o próprio Verissimo dizendo, um por um, “não é meu”, aí sim, pode dar resultado. Até já consigo imaginar a repercussão na segunda-feira, todo o mundo dizendo, “puxa, eu achava que aqueles textos todos fossem dele, não imaginava que fossem falsos”. Isso até pode ser o começo de uma série de matérias sobre o assunto, já que outros escritores, como Mario Quintana, Arnaldo Jabor e Vinicius de Moraes, sofrem do mesmo mal. Está dada a sugestão. A única esperança é o Fantástico.