sexta-feira, setembro 23, 2005

A paixão pela fotografia

Meu amigo Manoel Augusto Queiroz, que nasceu em Natal, já morou em Porto Alegre e atualmente está em Brasília, voltou recentemente à capital gaúcha para rever amigos e matar as saudades da cidade. Em um de seus passeios de bicicleta, tirou algumas fotos com sua Sony Cybershot, depois as divulgou por e-mail. Esta aí em cima foi tirada no Parque Marinha do Brasil. Achei que estava boa demais e merecia aparecer aqui (cliquem nela para ampliar).

O que me faz lembrar: eu também gosto de fotografia. Acho que, se eu tivesse me dedicado mais, teria sido um excelente fotógrafo. Sempre tive boa noção de enquadramento e do momento certo de tirar a foto, desde o tempo em que eu usava uma “Kodak Instamatic Pocket” (depois apelidada de “Xereta”). Em 1981, traduzi um manual de uma Pentax e, só de tomar conhecimento dos recursos, já fiquei fascinado com as possibilidades. Mas só viria a colocá-los em prática muitos anos mais tarde, com uma Minolta que meu irmão me emprestou, depois acabou dando de presente. E, claro, aproveitei ao máximo as aulas de fotografia na Faculdade de Jornalismo.

Por influência de um amigo, criei gosto pelo slide. Em minha viagem aos Estados Unidos em 1990, só comprei filme negativo para impressão em lojas onde realmente não havia slide para vender. E com isso quase aconteceu uma perda irreparável. Quando falei sobre os slides para o meu irmão que ainda era o dono da máquina, ele me alertou: “Olha pra ver se não tem nenhum Kodachrome. Se tiver, não vais conseguir revelá-lo aqui no Brasil.” Fui conferir e tinha um que eu havia comprado em uma lojinha do Brooklyn, em meio a um tour. Ali estavam imagens do Jardim Botânico do Brooklyn e também fotos noturnas tiradas do alto do Empire State, com tripé. Modéstia à parte, ficaram perfeitas. Só não entrariam num cartão postal porque o céu não estava estrelado. Mas engraçado mesmo foi quando fui perguntar nos laboratórios de Porto Alegre: “Vocês revelam filme Kodachrome?” Invariavelmente a resposta era: “Sim, revelamos.” Eu insistia: “Processo K-14, vocês revelam?” “Ah, não, não revelamos.” Quem acabou me ajudando foi o mesmo amigo que havia me ensinado a apreciar slides. Ele era comissário de bordo e mandou revelar o filme no exterior para mim.

Outra experiência fascinante foi fotografar shows. A primeira vez foi em 1987, na apresentação de Charly Garcia no Teatro Presidente. Fui como amador, mesmo. Consegui um lugar excelente na segunda fila e registrei vários momentos. Uma das fotos viria a ilustrar uma matéria sobre Charly que eu escreveria em 1996 para o International Magazine. Depois, já com credencial de jornalista, fotografei David Bowie, Kiss, Yes, o histórico show de Roberto Carlos e Pavarotti e outros. Muitas dessas fotos não posso mostrar, pois assinei um documento me comprometendo a não usá-las para outra finalidade que não a de publicação no veículo que me credenciou. Lembro que, no show de David Bowie em Curitiba, em 1997, assinei o Termo de Compromisso com o papel apoiado nas costas da assessora de mídia dele. Depois ele próprio pediu aos fãs que enviassem material sobre a turnê para o projeto liveandwell.com e as fotos foram amplamente divulgadas.

Acabei me afastando da fotografia porque minhas máquinas começaram a falhar. De repente, o fotômetro da Minolta passou a funcionar de forma intermitente. Tentei enviar para conserto e descobri que “só em São Paulo”. Quando meu filho estava para nascer, comprei, pra remédio, uma Zenit, que é talvez a máquina mais barata entre as que incluem as regulagens básicas de um modelo profissional. No início, até funcionou bem. Mas depois o fotômetro falhou também. Não sei se é a umidade de Porto Alegre ou eu é que emano algum tipo de energia que interfere com componentes eletrônicos. Já tive problemas com o sintonizador de um receiver e também com um telefone sem fio. Cheguei a planejar a compra de uma Canon, mas hoje me vejo num momento de transição: as máquinas convencionais se encaminham para a obsolescência, enquanto uma digital profissional ainda está numa faixa de preço proibitiva. Até posso encarar uma digital comum, já que a qualidade, pelo que tenho visto, é extraordinária. Mas imaginem eu cobrindo um show com uma caixinha prateada na mão ao lado daquelas lentes poderosas dos outros fotógrafos. Ah, não, esse mico eu não quero pagar.

Lamento apenas que, com o advento da fotografia digital, o slide se encaminha ou para a extinção, ou para um nicho restrito a aficcionados, como hoje acontece com o filme Super-8 (que ainda pode ser conseguido e revelado em raríssimas lojas do exterior) e o disco de vinil. Aqui no Brasil, já deve ter desaparecido. Tenho até medo de perguntar nas lojas. É bem verdade que sessão de slides é como recital de poesia, concerto de música clássica, ópera, palestra e documentário: só quem gosta agüenta. Mas eu adoro.

Um dia ainda vou resgatar algumas fotos em minha ex-residência e colocá-las aqui. Sei que existe uma forma de escanear slides com um acessório chamado adaptador de mídia transparente (transparent media adaptor), mas seria mais um investimento que não posso fazer agora. A fotografia vai ter que esperar. Mas eu volto. É uma paixão forte demais para abandonar ou esquecer.