quarta-feira, setembro 14, 2005

Assumir os erros

Um dia desses eu e minha namorada estávamos conversando sobre algo que tivemos em comum em nossa educação: o estímulo a sempre falar a verdade. Inclusive – e principalmente – ao assumir a culpa por um eventual erro. Quem quebrou o vaso da sala? Fui eu, mãe. Quem mexeu no espelho retrovisor do carro? Fui eu, pai. Se não tivesse sido algo realmente grave, apenas uma molecagem benigna ou falta culposa, a admissão era recompensada com o perdão ou um castigo brando e simbólico. Não era delação premiada, era honestidade premiada.

É claro que o fato em si de se assumir a responsabilidade por uma falha não deve isentar o réu confesso. Mas uma postura honesta nessas situações diz muito do caráter da pessoa. Muitas vezes, uma atitude sincera diante de um erro desarma o acusador. O que custa ter a humildade de admitir que não se é infalível? De descer do pedestal e dizer: eu errei? As relações ficariam até mais fáceis se todos agissem assim.

Infelizmente, observam-se duas coisas. Primeiro: há pessoas que, com a cara mais deslavada do mundo, negam até a morte os seus deslizes. Por menores que sejam. Não, não fui eu quem quebrou o vaso. Quando cheguei, já estava quebrado. Não mexi no espelho retrovisor. Às vezes, a negação da responsabilidade chega às raias da burrice. Um dia, no tempo do colégio, eu estava desesperado tentando achar duas revistas que eu tinha que devolver para a biblioteca. A empregada só dizia “não peguei, não fui eu, não mexi em nada que não pudesse mexer”. Minha mãe sugeriu que eu perguntasse sobre “outra” revista, que não as que eu precisava. Fiz isso e na hora a empregada me trouxe exatamente as que eu estava procurando! (Caso alguém da família esteja lendo, não foi a Celina, foi a Rosa.)

Em segundo lugar, nem todos os ambientes de relacionamento são como era o da minha casa. Há situações em que, por mais leve que tenha sido a falta, sempre existe alguém ansioso por desmoralizá-lo. Aí, tanto faz se acusar ou ser descoberto, você tem que enfrentar toda a sorte de sanções e reprimendas, muitas vezes injustas e exageradas. Depois de um tempo você começa a questionar se a honestidade compensa nesses casos. Não será mais seguro guardar silêncio? De que adianta você se responsabilizar por seus atos e se dar mal, enquanto logo ao lado tem alguém se fazendo de bobo e levando vantagem? É preciso muita firmeza de caráter para não mudar de tática. (Caso algum colega esteja lendo, não me refiro ao atual ambiente de trabalho.)

Enfim, a verdadeira honestidade é aquela que não enseja outro benefício que não a paz com a própria consciência. Mas que a falta de reciprocidade incomoda, disso não há dúvida. E a injustiça, mais ainda. Há que se ter índole férrea para manter os princípios inabalados num mundo cheio de falsidade. Mas eu ainda acho que vale a pena.

1 Comments:

Anonymous Carla said...

Adorei este post, vou citá-lo no meu blog, tá???!
Corcordo plenamente com suas palavras.

10:10 AM  

Postar um comentário

<< Home