Sem arroz, por favor
Só não entendo o que os brasileiros têm de diferente. Se fosse assim, todos nós teríamos olho puxadinho também. Ou melhor: todos menos eu. Porque já falei aqui que não gosto de arroz. E sou visto como um ET por isso. É impressionante como, em geral, nenhum brasileiro consegue pensar numa refeição sem arroz. Quando vou almoçar ou jantar na casa de alguém, dependendo do grau de intimidade que tenho com o anfitrião, prefiro que nem saiba dessa peculiaridade do meu paladar. Só o que eu espero é que me deixe à vontade para comer apenas o que eu quiser. De preferência, sem muitas perguntas e sem olhares cheios de curiosidade. Quando as pessoas sabem de antemão que eu não gosto de arroz, costumam ficar atrapalhadas:
- Puxa, o Emílio não come arroz. E agora, o que vamos fazer?
Já me aconteceu de estar na praia com meus tios e, na hora do almoço, o prato principal ser à base de arroz. Quando minha tia viu que eu não iria comê-lo e daria preferência às outras opções (que eram poucas, mas não importava, eu só queria liberdade para recusar o arroz sem muito transtorno), teve um sobressalto: “Eu não lembrei que o Emílio não gosta de arroz!” E levantou da mesa correndo para fazer um bifinho para mim. Claro que só conseguiu me deixar morrendo de vergonha. A partir daquele dia, meus tios e minhas primas não comeram mais arroz durante todo o veraneio. E percebi que minha tia ficava perdida no momento de escolher o cardápio. Não adiantava eu dizer que não me importava. Se eu não comia arroz, ela não iria fazer. E sem arroz, fazer o quê? É assim que brasileiro pensa. E ainda debocha dos japoneses.
Já houve casos em que não havia outra opção. Era só risoto, por exemplo. Nessas situações, nada me resta senão ir comendo bem devagar, como geralmente acontece quando ingerimos algo que não nos agrada. E agüentar o anfitrião dizendo: “Pode comer e repetir à vontade, não se acanhe!” Para não dizer que não gosto de nenhum tipo de arroz, adorei um carreteiro de lingüiça que provei em minha adolescência. Não era exatamente igual a esse “arroz de china” que se vende em restaurantes campeiros, pois a lingüiça estava inteiramente desmanchada em meio ao arroz, enquanto o “arroz de china” tradicional traz a lingüiça fatiada. Mas é a única exceção. E fico possesso quando peço um prato sem arroz e na hora H lá estão aqueles repulsivos grãos brancos fumegando. Não adianta levar o prato de volta à cozinha e retirar o arroz. Não pode ter nem um grão, nem cheiro, nada.
Por fim, poupem-me daquela inteligentíssima pergunta sobre se eu comeria um prato de arroz para não morrer de fome. O instinto de sobrevivência não tem nada a ver com paladar. Os sobreviventes dos Andes que o digam.
2 Comments:
Emílio, você continua desgostando de arroz? Eu não gosto do arroz parboilizado. Sabe que eu, quando criança, DETESTAVA queijo? Só que eu ainda não conhecia o queijo colonial, quando comi, passei a ser fã de queijo. Mais tarde, descobri qual queijo não gostava: queijo prato, esse que vendem nos saquinhos de supermercados.
Curiosamente, há alguns anos, achei uma comunidade no Orkut chamada 'Eu odeio queijo!", com situações hilárias envolvendo queijo, em pizzas, por exemplo.
Continuo não gostando de arroz branco. Assim como gosto de carreteiro de linguiça, estou aprendendo a gostar de carreteiro de charque. Principalmente com azeite de oliva. Mas tive uma experiência como a tua com ovo. Eu tinha como um dogma que eu não gostava de ovo. Aos 14 anos, estava na praia com a família de amigos e eles fizeram ovo frito com salsicha. Resolvi encarar. ADOREI. Fiquei como criança que descobriu um brinquedo novo. Depois acabei gostando de ovo cozido, também. Teve outra coisa de que aprendi a gostar, mas isso não foi uma coisa boa: a gordura da carne.
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