quarta-feira, julho 27, 2005

Deeeez miiiiiiil, deeeeeez miiiiil...

Pensando bem, eu e alguns amigos poderíamos ter nos tornado um grupo humorístico tipo Casseta e Planeta. Em nossa adolescência, gostávamos de ligar o gravador e improvisar sátiras (na verdade eu acho que já tinha 20 anos, mas era o mais velho do bando). Às vezes combinávamos o que iríamos dizer, mas nunca havia propriamente um script. As melhores piadas eram as que saíam na hora, mesmo. Como no dia em que estávamos na oficina no fundo da casa de um dos caras da turma e gravamos uma matéria fictícia sobre calvície. (Naquela época, nem imaginávamos que esse problema atingiria muitos de nós. Mas eu escapei, não perdi nada: nem cabelo, nem peso.) Nosso camarada Miguel fingia ser um sujeito de meia idade (talvez uns 44 anos) dando um depoimento sobre queda de cabelo. No meio da gravação, caiu no chão um alicate, fazendo um barulho enorme. O Miguel emendou: “Olha aí, caiu mais um fio de cabelo!”

Depois ficávamos ouvindo as fitas e tirando o maior sarro, repetindo as bobagens que tinham saído em tom de deboche. Uma das que fez mais sucesso foi a tirada de Paulo Brody, hoje um teatrólogo em ascensão em Porto Alegre: “Vou te enfiar dez mil pnc”. O “pnc” é uma forma abreviada do que ele falou, pois este blog pretende continuar “Censura Livre”. Mas de tanto repetirmos o que o Paulo havia dito, imitando a voz dele, o “dez mil” acabou virando uma piada interna da nossa turma. Nem precisávamos dizer a frase toda, apenas provocávamos: “Já pensou, hein? Deeeeez miiiiil, deeeeez miiiiil...” Até hoje todos lembram disso. E como poderíamos esquecer, se o “deeeeez miiiiil” foi a inspiração para Luís Mota batizar a sua banda de rock, a 10K PNR. O nome original era Dez Mil PNR, com o PNR por extenso, mesmo. Ele deve ter percebido que não iria muito longe com um nome tão obsceno, então encurtou-o.

Tenho saudades da velha turma. Nosso ponto de encontro era na Rua Pelotas, perto da Brahma (hoje Shopping Total), onde moravam dois do grupo. Éramos crianças grandes, sabíamos disso e nos divertíamos. Lembrei de tudo isso por causa dos dez mil acessos do blog. Já pensaram? Deeeez miiiil, deeeez miiiil... Às vezes me pergunto por que não podemos nos encontrar numa tarde de sábado na Rua Pelotas, só pra jogar conversa fora. Só porque estamos todos com mais de 40? Poderíamos retomar a matéria sobre a calvície, agora com casos concretos. Mas não sei se conseguiríamos conciliar nossas agendas.

Acho que não é a maturidade que nos torna adultos. É a falta de tempo. É preciso muito tempo livre para ser criança.