Brasileiro
Que brasileiro é uma raça eu já tinha descoberto em uma viagem para os Estados Unidos em 1990. Os americanos olham pra gente e sabem que somos brasileiros da mesma forma que nós identificamos os japoneses. Nós somos, sim, etnicamente típicos e diferentes. Para eles, não somos brancos: somos hispânicos. Nossa pele é parda. É uma experiência curiosa adquirir este senso de raça e identificação. A vida inteira eu pensei que fosse branco. De repente, descobri não só que não sou branco, mas que posso ser alvo de racismo.
No entanto, por mais maldosa que fosse a intenção, eu jamais imaginaria que houvesse um tom racista em me chamar de brasileiro. Ora, eu sou brasileiro! E o apoio que recebi de amigos estrangeiros que criticaram a mensagem "racista", no fundo, trouxe o preconceito embutido nas entrelinhas. Pensando bem, um negro também pode se ofender se ouvir a palavra negro num tom agressivo ou acompanhada de um termo de baixo calão. Ainda assim, eu não estaria condicionado a ouvir algum estrangeiro me chamar de "Brazilian" e perceber a conotação pejorativa. Claro que, no meu caso, a ofensa estava inequívoca na palavra "twat". Mas o fato de a mensagem ter sido considerada racista não deixa dúvidas sobre o fato de que os estrangeiros viram depreciação também na qualificação "Brazilian".
Então fica claro que, para os estrangeiros, os brasileiros são, em primeiro lugar, uma raça. Chamar alguém de brasileiro pode ser considerado uma ofensa. Brasileiro tem cara de brasileiro. E isso o coloca sob suspeita de terrorismo num país estrangeiro. Isso é grave.
Meu sobrinho Ricardo está em Londres. Vai mandar notícias de vez em quando em seu blog. Mas o santo dele é forte e ele vai curtir a viagem sem contratempos. Só é uma pena que não vou poder mais contar com ele para me levar ao hospital quando tiver meus ataques de asma. Chamo o Ecco Salva, mesmo.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home