terça-feira, junho 07, 2005

Cyberconsumo

Eu sou fã assumido da Internet e tudo o que ela oferece. Mas, além das informações e da chance de fazer amigos virtuais (ou mesmo reais), um dos maiores benefícios que a rede me proporcionou foi poder fazer compras diretamente das lojas do exterior, sem intermediários. Claro que antes isso já era possível em menor escala, desde que se instituiu no Brasil o cartão de crédito internacional. Mas a Internet liberou geral, agilizou e facilitou o consumo via ciberespaço.

Faz tempo que eu me interesso principalmente por livros importados. Mas, nos velhos tempos, eu dependia dos atravessadores. Era uma agonia. As revistas importadas até chegavam – algumas. E lá eu ficava sabendo dos livros que eram lançados no exterior. Aí, lá ia eu nas livrarias ditas "importadoras" de Porto Alegre. Algumas até diziam poder conseguir e ficavam de me dar retorno. Eu voltava na semana seguinte e a resposta era: "Não tinha em São Paulo". Ora, desde quando uma loja que consegue suas mercadorias em São Paulo pode se anunciar como "importadora"? Antigamente a humanidade pensava que o mundo terminava no Oceano Atlântico. Pois os lojistas de Porto Alegre achavam que o mundo acabava em São Paulo. Em outra livraria eu perguntei como eles faziam para encomendar livros importados e a moça respondeu: "A gente não encomenda, vem automático". Que beleza! Então era só esperar (sentado) que o livro "vinha automático". De São Paulo, é claro.

Certa vez levei o recorte de uma revista importada com o anúncio de um livro que eu queria comprar. Quando mostrei para o gerente da loja, ele não escondeu sua surpresa pelo fato de o livro existir mesmo e ele nunca ter ouvido falar. Naquele dia aprendi que vendedor – de qualquer tipo de mercadoria – pensa que conhece tudo. Hoje, quando quero procurar algum CD ou livro diretamente na loja, tento imprimir a capa da Internet, pois isso faz uma diferença enorme no atendimento. Se você pede um título e o vendedor não conhece, acha que não existe. Mas se você prova que existe ele se vê obrigado a lhe dar uma atenção maior (aliás, várias vezes em lojas de discos já ajudei clientes a achar CDs que os vendedores disseram que não tinham).

Voltando à era pré-Internet, encontrar discos importados era mais fácil porque havia um mercado maior, não era "só eu" que me interessava. Um lojista em especial tinha contatos no exterior (os outros, obviamente, só em São Paulo) e conseguia praticamente tudo o que eu encomendava. Mas livros era difícil. Quando fui aos Estados Unidos em 1985 e depois novamente em 1990, aproveitei para trazer um estoque de volumes escolhidos a dedo, pois não sabia quando teria essa chance outra vez. Hoje consigo o que eu quiser pela Internet. Tanto a
Amazon quanto a Abebooks permitem a encomenda de livros raros e fora de catálogo. E os preços não são extorsivos, como se poderia imaginar. Em questão de anos, consegui todos os livros importados antigos que queria comprar. Hoje meu problema é outro: achar tempo para lê-los.

Encomendar CDs e DVDs do exterior é mais problemático, por causa da taxa de importação de 60%. Mesmo assim, dependendo do quanto eu quero conseguir algum item, vale a pena. A
Gemm congrega lojas de discos do mundo todo. Lá se consegue tudo, praticamente. Até um colega meu, por dica minha, comprou um vinil de uma cantora chamada Anamia, que ele já teve e depois extraviou. Eu consegui o LP "On a New Street", de Little Anthony and The Imperials, de 1973, em estado de novo. E também o CD raro "Love You Till Tuesday", de David Bowie, pelo selo inglês Pickwick. Em suma, a Internet, em termos de consumo, me libertou da restrição dos atravessadores desinformados (ou desinteressados) e me colocou diretamente em contato com vendedores do mundo inteiro.

1 Comments:

Blogger Marcos* said...

Olá, Emílio! Interessante texto sobre um problema que todos nós, "consumidores de cultura" que temos uma queda por itens não óbvios, já enfrentamos. Não quero tirar o crédito dos vendedores como classe, mas achar um, no ramo de produtos culturais, que realmente entenda do que está vendendo, pode ser mesmo um problema. Lembro que certa vez eu queria assistir ao Drácula de Tod Browning, com Bela Lugosi, que tinha certeza de já ter visto na sessão de clássicos da locadora que frequentava, mas, ao não conseguir mais localizar o DVD, vi-me em sérios apuros ao tentar explicar à atendente que filme era esse. Quando eu disse que o título era apenas Drácula e que era um filme antigo, ela veio com o "Drácula 2000" estrelado pelo Gerard Butler na mão, me perguntando se era esse... Será que uma pessoa que pensa que um filme de 2000 é "antigo" devia MESMO estar trabalhando numa locadora de DVD? Quando expliquei que o filme que queria era de 1930, a moça apenas ficou me olhando, como se eu tivesse ficado verde de repente. Infelizmente, esse tipo de coisa não é nenhuma exceção... Mas enfim, gostei do seu blog e pretendo retornar. Se quiser dar uma vista d'olhos no meu, ficarei honrado. Abraços!

10:41 PM  

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