Os "reality shows"
O argumento apresentado por um amigo meu que assiste ao "Big Brother" é de que o programa atiça o seu lado "voyeur". Ora, a locadora da esquina deve ter toneladas de filmes pornôs ou eróticos bem mais interessantes! Ou então, encoste o ouvido na parede e ouça os vizinhos. Os "reality shows" reduzem seres humanos a bichos de exposição. Institucionalizou-se o prazer mórbido de observar os conflitos, as fraquezas, os dramas e os sentimentos de um grupo de pessoas em convivência. Coloque-se sal na ferida e obriguem-nos a usar chapéus e roupas ridículas.
Não acredito que nenhum desse participantes venha a ter fama por muito tempo. Nos velhos tempos dos programas de perguntas e respostas ("O Céu é o Limite", "8 ou 800", etc), os concorrentes tinham seus quinze minutos Warholianos de notoriedade e depois desapareciam. Pois a turma do "Big Brother" vai sumir também. A Elaine, que venceu o primeiro "No Limite", achou que conseguiria largar seu ofício de cabeleireira, mas teve que voltar. Que fim levou a Pipa? E a Andréa? Aliás, até é bom dizer: o "No Limite" eu achei um programa interessante, bem produzido, com toda uma mística. A Praia dos Anjos e a Chapada dos Ventos não tinham esses nomes, mas foram assim batizados especialmente para a TV. Os desafios, as provas, as paisagens, tudo tinha um toque de superprodução. Agora, o que dizer de observar um grupo heterogêneo confinado em uma casa?
No exterior os "reality shows" estão se diversificando. Estão colocando a equipe de TV dentro da casa de uma família famosa. Para os fãs do artista enfocado até pode ser interessante, mas no fundo é a mesma mediocridade do "Big Brother". Agora querem fazer um programa mostrando gordinhos em dieta, acompanhando o emagrecimento de cada um. Eu nunca imaginei que a televisão desceria tão baixo, explorando as dificuldades e reveses do ser humano para deleite do telespectador.
Se o "Big Brother" não serve para nada, ao menos me faz valorizar as novelas, os programas de auditório, os programas humorísticos, qualquer coisa. Bom, eu já disse que quase não vejo TV. E se for pra ver "reality show", prefiro olhar ao meu redor, pois está tudo ali. Eu me pergunto se a televisão um dia vai conseguir inventar algo mais decadente. É melhor nem lançar o desafio.
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