segunda-feira, novembro 22, 2004

Valores

Eu costumo dizer que existem três coisas de que todas as pessoas normais gostam: comida, dinheiro e sexo. Mas há aqueles que exageram em algum dos três itens. Eu adoraria poder afirmar que o meu exagero é sexo. Mas acho que o meu apetite sexual é normal. Dinheiro é importante, mas não é tudo. Não compra a felicidade. A falta dele é que às vezes nos complica a vida. Já comer... eu achava que minha predileção por comida fosse normal. Até ouvir alguns colegas meus fazerem afirmações como "puxa, esqueci de almoçar!" "Não vou sair pro almoço, não estou com fome." Mas como? Onde já se viu alguém esquecer – ou pior, abdicar – de algo tão importante quanto uma refeição? Então, humildemente, concluo que minha propensão a comer é acima da normal. Como se meu peso já não mostrasse isso.

Já vi gente colocar em risco famílias, amizades, até a integridade física, pela chance de transar com aquela pessoa tão cobiçada. Entregam-se de corpo, mas sem alma, ao prazer carnal. Embora eu considere a atração uma condição importantíssima para o sucesso de um relacionamento, acho que tanto homens quanto mulheres deveriam se valorizar mais antes de se permitirem um encontro casual. Envolvimentos sem compromisso acabam causando sofrimento para um dos lados. Ninguém gosta de se sentir usado, por mais que desfrute o momento em si.

Assim também, conheço pessoas que pautam todas as suas decisões pelo dinheiro. Perdem um amigo, mas não perdem um centavo. Desconhecem as "coisas que o dinheiro não compra", por mais surrado que seja o chavão. Tratam as amizades e os relacionamentos amorosos como um negócio: aquele que melhor souber pechinchar e impor suas condições, leva vantagem. São indivíduos que crescem profissionalmente, acumulam bens, usam os outros no que lhes aprouver, mas abrem mão do patrimônio mais valioso que existe, que é o sentimento verdadeiro de amor e amizade daqueles com quem convivem. Esses, nas palavras do poeta Glaucus Saraiva, vivem "a extrema pobreza da indigência espiritual" (poema "Borracho").

Pois é. Depois de filosofar romanticamente sobre a nobreza de caráter do ser humano (ou a falta de), olho para minhas dívidas e fico assustado. Eu nunca sonhei em ficar rico. Não acho que seja uma boa opção de vida. Mas se for para pagar minhas contas, até posso mudar de idéia. Pensando bem, ser milionário deve ter suas vantagens. Ainda mais para saldar os débitos de fim de ano. Então está decidido: vou ficar rico! Com licença que eu vou até ali enriquecer e já volto.