quinta-feira, setembro 30, 2004

Confusões de infância e adolescência

A imaginação das crianças muitas vezes supera a de escritores e humoristas. Pedro Bloch explorava isso muito bem em sua coluna "Criança Diz Cada Uma", da revista Pais e Filhos, que foi também título de um livro de sua autoria. O americano Art Linkletter tinha um programa de TV em que entrevistava crianças e contou muitas de suas "tiradas" no livro "Kids Say the Darndest Things". Mas às vezes acho graça das confusões que eu mesmo fazia na infância.

Quando criança, eu imaginava que "estro" fosse um movimento musical. E tudo por causa do programa "Um Instante, Maestro", de Flávio Cavalcanti, onde eu ouvia falar em "uma estro" pra cá e "uma estro" pra lá. Um dia minha mãe me viu brincando de reger uma orquestra. Eu segurava uma batuta imaginária na mão e dizia: "Já fiz uma estro, agora vou fazer duas estros."

Eu não conhecia pessoalmente todos os amigos de meus pais, mas alguns nomes me eram bem familiares, de tanto que eles citavam. Um nome que eu ouvia bastante era de um tal de Fulano. Achava que fosse realmente uma pessoa chamada assim.

Mesmo quem não é gaúcho deve saber o que é um CTG, ou Centro de Tradições Gaúchas. Existem vários espalhados pelo Brasil e até pelo mundo. Pois, no começo de minha adolescência, eu pensava que os CTGs fossem todos numerados. O de Porto Alegre era o 35. Talvez o 34 ficasse em Viamão e o 36 em Canoas. Só muito tempo depois caiu a ficha e percebi que o nome era uma alusão ao ano da Revolução Farroupilha, 1835.

Eu tinha 15 anos quando estreou na Rede Tupi a novela "Tchan, a Grande Sacada". Achei o nome superestranho pois, além de não saber o que era "tchan", imaginava que "a grande sacada" fosse uma sacada bem espaçosa. E a música ainda dizia: "é preciso ter tchan e entrar de uma vez na grande sacada". Só fui entender a expressão vários anos depois, quando a vi novamente em um anúncio de roupas que eram "a grande sacada" para o verão, ou algo assim.

Meus pais tiveram uma empregada que ficou conosco mais de quarenta anos e era como se fosse da família. Ela me viu nascer e me tratou como criança a vida inteira. Às vezes ela me sufocava com excesso de atenção, mas era uma pessoa com uma bondade infinita. Sempre que faltava luz ela dizia que ia acender uma vela de "palma sete". Eu pensava que "palma sete" fosse um tamanho padrão de velas. As menores deveriam ser de palma cinco. Procurando bem talvez se achassem até maiores, de palma oito ou dez. Eu lembro que já era bem grandinho quando aprendi que o termo correto era espermacete.

Sempre que alguém falava em "posar para a posteridade" eu achava que a palavra fosse derivada de "poster".

Minha irmã me ensinou uma oração que falava na "piedade de vina". O que seria vina? No Paraná eu sei que é salsicha.

E assim hoje eu tomo conhecimento das confusões que outras crianças fazem. Um de meus sobrinhos estudou no mesmo Jardim de Infância que eu, na rua Senhor dos Passos. Um dia minha irmã perguntou a ele se saiba o nome da rua onde estudava. "Sei, mãe. É Senhor do Espaço." O filho de um colega ouviu a mãe dizer que teria que levá-lo "no homeopata". Imediatamente perguntou: "Quem é o teu pata?"

2 Comments:

Blogger plasero said...

QDO PEQUENO COROINHA,OUVIA O CANTO(SERAFINS CELESTE....)EU PENSAVA Q ERA SERÁ FIM CELESTE,O FIM DO CÉU,DEPOIS Q FIQUEI SABENDO Q ERA UMA ORDEM DE ANJO!

9:37 PM  
Blogger plasero said...

QDO PEQUENO COROINHA,OUVIA O CANTO(SERAFINS CELESTE....)EU PENSAVA Q ERA SERÁ FIM CELESTE,O FIM DO CÉU,DEPOIS Q FIQUEI SABENDO Q ERA UMA ORDEM DE ANJOS!

9:38 PM  

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