quinta-feira, outubro 16, 2025

Ace Frehley (1951-2025)

Meu primeiro disco do Kiss foi um compacto duplo que comprei em 1975 (na verdade, com um dinheiro que minha irmã me deu, então foi presente dela) na Yes Discos da Rua da Praia com quatro faixas do primeiro LP: "Strutter", "Deuce", "Nothin' to Lose" e "Kissin' Time". Depois desse, passei a comprar os LPs. Chamava-me a atenção que as músicas de autoria de Ace Frehley eram bem interessantes - "Getaway", "Strange ways", "Parasite" - mas eu ainda não tinha aprendido a identificar quem cantava o quê. Havia também uma falsa ideia, entre os americanos, inclusive, de que Gene Simmons era o vocalista principal. Isso porque ele cantava em "Rock and Roll All Nite", o primeiro sucesso, que ganhou um clipe. 

No dia 18 de março de 1978, comprei o LP Love Gun, do Kiss, na saudosa Casa Coelho da Galeria Chaves, em Porto Alegre, onde hoje fica uma agência do correio. Sem que nenhum fã do Kiss pudesse adivinhar, seria o último álbum do grupo com a sonoridade tradicional. Tudo começaria a mudar no disco seguinte. Mas ele trazia uma novidade: uma voz diferente, que eu nunca tinha ouvido antes, na faixa "Shock me". Como o autor era Ace Frehley, presumi que o guitarrista estava fazendo o seu primeiro vocal solo. 

Depois veio o álbum-duplo Alive II, com três lados de shows e um de estúdio. Ace novamente cantava em duas músicas: a versão ao vivo de "Shock me", em que Paul Stanley anunciava o seu nome, e na inédita "Rocket ride". Mas os fãs de Ace fizeram a festa mesmo quando cada integrante do grupo lançou um disco solo em 1978. O LP do guitarrista trazia nada menos do que oito faixas com vocal solo dele, além da instrumental "Fractured mirror". Quatro vezes mais músicas cantadas por ele num só álbum do que em toda a discografia do Kiss.

A partir daí, Ace passou a cantar nas músicas de sua autoria, além da cover de "2,000 Man", dos Rolling Stones. Mas não ficaria muito tempo no grupo. Chegou a posar para a foto da capa do Creatures of the night, em 1982, além de aparecer no clipe de "I love it loud", mas só para manter as aparências. Já estava fora.

O Kiss já tinha até tirado a maquiagem quando, após anos amadurecendo a ideia, resolveu trazer de volta a formação original em 1996, com máscaras e tudo. Essa série de shows veio ao Brasil e passou por Porto Alegre no dia 15 de abril de 1999, no Hipódromo do Cristal (mais detalhes aqui). Depois da apresentação, eu e alguns fãs ficamos conversando com o pessoal da produção e acabamos ganhando, cada um, uma palheta de souvenir - justamente a de Ace Frehley. Ele não a usou, obviamente, mas fazia parte do lote oficial. 
Ace era rebelde e indisciplinado, o que acabou fazendo com que saísse novamente do grupo. Teve livros escritos sobre ele por uma ex-namorada e dois ex-amigos, onde foi pintado como um sujeito abusado e aproveitador, que explorava fãs e pessoas próximas. Bebia muito e usava drogas, mas é possível que, ao menos na última das muitas vezes em que anunciou estar sóbrio, não tenha mais tido recaída. Era apoiador do Trump. Mas, vida particular e maus hábitos à parte, ele era meu integrante preferido do Kiss. Reconheço que a alma do grupo sempre foi Paul Stanley, mas meu interesse e curiosidade maior eram pelo trabalho do Ace. Tanto que tenho todos os álbuns dele em CD, como mostrado abaixo. 
Paul Daniel Frehley morreu hoje, aos 74 anos, por consequência de ferimentos após uma queda no mês passado.