Revisitando o centro
Há quem diga que o centro de Porto Alegre está decadente. Comparado com o que já foi um dia, talvez esteja, mesmo. Mas é um lugar onde eu me sinto em casa. Morei lá até os 26 anos. Depois disso, trabalhei lá em 1989 e, mais tarde, de 1996 a 2009. Tenho caixa postal na Agência Central dos Correios. Por muito tempo, chamei o centro de "meu shopping preferido", pois era onde se encontravam as melhores lojas de discos raros da cidade, visitadas por colecionadores de todo o país. Algumas poucas ainda resistem. Continua sendo a meca dos sebos de livros, boa parte deles na Riachuelo.
Pois o centro foi uma das partes mais atingidas pela enchente de maio. Vídeos mostravam cenas estarrecedoras filmadas de dentro de botes. O Ed. Marechal Trompowsky, onde morei dos 2 aos 26 anos, ficou um mês sem água e luz, como registrou uma reportagem do GZH. Hoje resolvi dar uma passada no centro para comprar fones de ouvido no camelódromo (dos antigos, próprios para áudio, sem microfone, como eu gosto para usar no iPod) e já dei uma examinada nos arredores. O estacionamento onde eu costumava deixar meu carro, na esquina da Mauá com a Travessa Leonardo Truda, está funcionando normalmente, mas imagino que tenha enfrentado uma situação bem complicada. Muitos automóveis danificados? Não cheguei a entrar lá, pois achei melhor ir direto no estacionamento do Hotel Embaixador, que fica num ponto elevado. Mas quando for lá de novo, vou perguntar.
O que me motivava a usar justamente aquele estacionamento era a proximidade com a já citada Agência dos Correios. Essa está fechada ao público até segunda ordem. Duas encomendas que eu tinha feito ainda antes da enchente foram redirecionadas para uma unidade na Avenida Natal, a mesma da entrada do Cemitério Ecumênico João XIII. Se eu ainda trabalhasse no centro, ficaria bem atrapalhado, mas estando aposentado, posso me deslocar até esse outro endereço sem maiores problemas.
Ao lado do Correio, na General Câmara, fica o Restaurante Vida e Saúde, que estava sendo recuperado. No Instagram eles postaram um vídeo mostrando os trabalhos, em tom de otimismo, num clima de "voltaremos". O Rua da Praia Shopping, destino de minhas caminhadas com meu filho, segue fechado. Também a Casa de Cultura Mario Quintana continua com a entrada bloqueada ao público em geral. Eu tinha esperanças de que pelo menos a Discoteca Pública Natho Henn estivesse funcionando, já que fica no 4º andar. Mas minhas pesquisas vão ter que esperar.
Como só iria sair de lá às 16 e 30 para buscar meu filho na escolinha, dei uma circulada com calma por mais algumas ruas. Avistei alguns cafés, lancherias e até um bar que eu não conhecia. Ou são novos, ou tinham escapado ao meu radar. Não pretendo sair do Menino Deus, mas um pouco do meu coração sempre vai estar no centro, onde passei toda a minha infância e adolescência. Mesmo não existindo mais as minhas adoradas lojas de discos, de equipamentos de som, livrarias de ponta (Globo, Lima e Sulina) e cinemas de calçada.
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