Já comentei aqui certa vez, mas quero citar de novo: entre as recordações mais doloridas de minha infância, sem dúvida, estão as injeções que eu era obrigado a tomar. Não adiantava chorar nem espernear: "tem que ser", dizia minha mãe, do alto de sua autoridade. Nem lembro ou acho que nunca cheguei a saber o que havia naquelas ampolas. Pouco me importava o nome daquele líquido que a agulha forçava para dentro de meu glúteo. Só sei que doía. E que, se dependesse de mim, eu preferia não tomar a injeção.
É aí que vem um dado curioso: desde que passou a depender de mim, nunca tomei mais injeção nenhuma. Lembro de um dentista que sugeriu ampola de Voltaren após um procedimento, mas eu disse que optaria pelo comprimido. E aí me surgem dúvidas. Será que aquelas injeções todas que minha mãe me obrigou a tomar eram realmente necessárias? Não haveria, talvez, uma alternativa menos traumática que pudesse me curar? Ou a Medicina é que avançou?
Pois bem: nosso Governador, José Ivo Sartori, está obrigando os servidores do Estado do Rio Grande do Sul a provar de um remédio igualmente doloroso: o parcelamento dos salários. E o argumento dele não se distancia muito do que a minha mãe usava. Trocando em miúdos, ele também está dizendo: "tem que ser". E com certeza todos, tenham ou não votado nele, estão se perguntando se outro Governador tomaria a mesma medida. Se não encontraria, quem sabe, um comprimido ou uma gotinha que poupasse os glúteos dos funcionários estaduais.
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Hoje estava saindo do trabalho pouco depois das 17 horas quando vi um carro vermelho (não me perguntem a marca) se aproximar de mim na rua Gonçalves Dias. Quando olhei para dentro, mesmo sem ouvir a voz do motorista, pude ler nos lábios que ele estava dizendo meu nome com aquela longa entonação que deixa subentendido: "Há quanto tempo..." Era meu ex-colega de Faculdade de Jornalismo Arthur Gayer. Para mim parece que foi ontem, mas na verdade tínhamos nos visto pela última vez em 2003. Eu lembro que combinamos de nos encontrar no Shopping Praia de Belas para eu entregar para ele as gravações do programa de "Mr. Lee" de 1976 que me tinham sido passadas por meu amigo Juarez, de Curitiba. Foi o Arthur quem fez a intermediação para que eu participasse de duas edições do saudoso programa "Roda Som", em dezembro de 2002, na Cultura FM, ocasião em que conheci pessoalmente o crítico Juarez Fonseca e os músicos Nélson Coelho de Castro e Bebeto Alves, que eram os apresentadores. Infelizmente não pudemos conversar muito, pois eu tinha que buscar meu filho. Mas é bom saber que os amigos não esquecem de mim, pois eu também não esqueço deles.
2 Comments:
"Mas é bom saber que os amigos não esquecem de mim, pois eu também não esqueço deles."
Bonito isso!...
Obrigado. Eu me identifico muito com aquela crônica do Paulo Sant'ana que muitos pensam ser do Vinicius de Moraes. "Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos." Um pouco por comodismo, por preguiça e também por gostar de ficar sozinho de vez em quando (mas não sempre), fui perdendo contato com meus amigos. Mas não esqueço deles. Já escrevi sobre isso uma vez aqui no meu blog:
http://emiliopacheco.blogspot.com.br/2007/08/al-amigos.html
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